Este blog é para você que é um Batista Reformado, e que entende que a Confissão de Fé Londrina de 1689 é como "espinha dorsal" no entendimento das doutrinas bíblicas.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Reformando o Culto

João Calvino

Com relação à adoração, a próxima acusação dos nossos inimigos, tem a ver com o fato de que, abolindo as observâncias pueris, que só levam à hipocrisia, nós adoramos a Deus de forma mais simples. Que de maneira alguma detratamos a espiritualidade da adoração é atestado pelos fatos. Pelo contrário, tendo a adoração em grande medida se degenerado, nós a restauramos em sua forma primitiva. Vejamos se a ofensa desferida contra nós é justa. Em termos doutrinários, eu sustento que estamos alinhados com os profetas; pois além da idolatria, não havia nada que eles reprovassem mais do que a falsa imaginação de que a adoração a Deus consistia de mera formalidade de ritos. Pois qual era o fundamento das suas declarações? Que Deus não habita e não atribui valor às cerimônias como um fim em si mesmo, mas que observa a fé e a verdade no coração; e que a única finalidade para a qual Ele as ordenou, e as aprovou, é que sirvam apenas de mero exercício da fé, da oração e do louvor. Os escritos de todos os profetas estão repletos deste conceito e não tenho observado que haja outra coisa que os tenha feito se ocupar mais.
Agora, não se pode, sem arrogância, negar que quando os reformadores apareceram, o mundo se encontrava, mais do que nunca, afligido por este tipo de cegueira. Foi então absolutamente necessário instar com os homens, da mesma forma que os profetas fizeram, e arrancar deles como pela força, a arrogância de imaginarem que Deus pudesse ficar satisfeito com estas cerimônias vazias, como crianças que se satisfazem com shows. Havia uma necessidade urgente de uma doutrina espiritual da adoração de Deus. Doutrina essa que se desvanecera das mentes dos homens. Que estas duas coisas foram fielmente realizadas por nós no passado e ainda agora realizamos, tanto nossos escritos, como os sermões claramente o atestam.

Censurando as cerimônias em si, e abolindo grande parte delas, confessamos que há algumas diferenças entre os profetas e nós. Eles censuraram seus compatriotas por confinarem a adoração na exterioridade das cerimônias, mesmo se tratando de cerimônias que foram instituídas por Deus mesmo. Nós rejeitamos que a mesma honra seja dada às invenções frívolas inventadas pelo homem. Eles, enquanto condenavam a superstição, deixaram intocadas as múltiplas cerimônias que agradou a Deus instituir, e que foram úteis e apropriadas para o tempo da tutelado; nosso trabalho tem sido corrigir numerosos ritos, que fazem a adoração, tanto andar de volta ao erro,, como de volta ao abuso, e além do mais ficar completamente fora de tempo. Pois, se quisermos colocar tudo numa tremenda confusão é só perder de vista a distinção entre a velha e a nova dispensação e o fato de que as cerimônias e suas observâncias, que eram úteis debaixo da Lei, agora, no entanto, são não somente supérfluas, como viciosas e absurdas.

Quando Cristo estava ausente e não havia ainda se manifestado, as cerimônias, que eram sombras Dele, nutriam a esperança do Seu advento no coração dos crentes. Mas agora que Sua glória está presente e visível, elas só o obscurecem. E nós vimos o que Deus mesmo fez. Pois estas cerimônias, que ordenou por um tempo, Ele agora as queimou para sempre. Paulo explica a razão: primeiro, desde que o corpo se manifestou em Cristo, o tipo, é claro, foi retirado; e segundo, é que Deus se agradou agora de instruir sua Igreja de forma diferente. (GI 4:5; CI 2: 4-14 e 17) Tendo então, Deus libertado Sua Igreja do fardo imposto a ela, eu pergunto, pode alguma coisa ser mais perverso do que os homens colocarem um novo fardo no lugar do velho? Tendo Deus prescrito certa economia, quão presunçoso seria estabelecer algo contrário e abertamente repudiado por Ele?

Mas o pior de tudo é que apesar de Deus, tão freqüente e severamente proibir todo tipo de adoração prescrita pelo homem, a única adoração prestada a Ele, consistia de invenções humanas.

Baseado em que, então, os nossos Inimigos vociferam que nesta matéria, lançamos a rei igião ao vento? Primeiro, não estendemos um dedo sequer, senão naquilo que Cristo mesmo considerou de nenhum valor, quando declarou que era vã a adoração a Deus pela tradição humana. A coisa poderia ser mais tolerável, se as conseqüências fossem apenas um desperdício de energia dos homens, por exercerem uma adoração sem valor. Mas, o que tenho observado, é que em muitas passagens, Deus proíbe, qualquer nova adoração, não sancionada pela Sua Palavra; desde que ele declara que se sente terrivelmente ofendido com a presunção dos que inventam tais adoração, e ameaça com severa punição. Fica claro então que a reforma que introduzimos era requerida e muito necessária.

Eu não estou desapercebido, de quão difícil é persuadir o mundo de que Deus rejeita e mesmo abomina tudo relacionado à sua adoração, que provém de invenções por parte da razão humana.

O engano nessa matéria, deve-se à várias causas; "Todo mundo pensa alto a respeito de si mesmo", como diz velho provérbio. Sendo assim, o que produzimos com nossa própria mente, nos deleita, e além do mais, como Paulo admite, essa adoração fictícia, freqüentemente manifesta alguma aparência de sabedoria (Col 2:23). Então, como na maioria das vezes, se apresenta com um esplendor exterior que enche os olhos e agrada muito mais a nossa carne natural, do que aquela que Deus aprova e requer, e que não tem tanta ostentação. Mas não há nada que cegue tanto o entendimento dos homens e os engana no entendimento desse assunto, do que a hipocrisia. Pois, enquanto é devido ao verdadeiro adorador entregar-se de coração e mente, os homens estão sempre desejando inventar um modo de servir a Deus de forma totalmente diferente daquela que foi descrita, seu objetivo é apresentar a Ele um certo corpo de observâncias, e resguarda a mente para eles próprios. Além do mais, eles imaginam que quando impõem a Ele, uma pompa externa, conseguem, por este artifício, evadirem-se de entregarem-se a si próprio. Esta é a razão, porque se submetem a inumeráveis observâncias, que miseravelmente os fadiga sem medida e sem fim, e os faz preferir escolher vagar em um perpétuo labirinto, do que adorar a Deus, simplesmente, em espírito e verdade.

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Fonte: Revista Os Puritanos, Ano XI – nº 02 – Abril/Maio/Junho de 2003. Páginas 22 e 23.

Extraído do site: http://www.eleitosdedeus.org/adoracao/reformando-culto-joao-calvino.html#ixzz0xcnHLIHX

Participação Congregacional no Culto

Leland Ryken


Uma inovação do culto Puritano foi o envolvimento de toda a congregação no culto. Para sentir as mudanças, devemos recordar o culto católico como existia antes da Reforma. A missa católica havia sido um culto em latim. A música, quer instrumental quer coral (com palavras em latim), era executada por músicos profissionais e era ininteligível para a pessoa comum. O “coral” (a parte de uma igreja inglesa onde o coro fica de pé ou senta) foi separado por divisórias do santuário principal onde a congregação sentava. A capela-mor e várias salas laterais igualmente dividiam as pessoas umas das outras e do altar onde era elevada a hóstia. Todos estes fatores conspiravam para tornar o culto um espetáculo no qual a congregação leiga permanecia passiva.

Que fizeram os Puritanos para tornar os adoradores leigos par­ticipantes no culto? Começaram por mudar a organização interior da igreja. Removeram as divisórias e fizeram o santuário ou nave central da igreja um auditório, no qual todo mundo podia ver e ouvir o culto inteiro. A mesa de comunhão foi retirada da capela-mor e posta próximo à congregação.

A música passou por uma transformação semelhante nos interesses da participação congregacional, em mudanças que já foram descritas. Em lugar da música instrumental e de música coral polifônica, os Pu­ritanos instituíram seu grande favorito, cântico congregacional de salmos métricos na língua inglesa. Increase Mather, escrevendo um prefácio para a obra de seu filho Accomplished Singer (Cantor Realizado), declarou: “Encorajaria especialmente nossos mais jovens a aprender a arte pela qual devem cantar regularmente, para que assim esta parte do culto divino possa ser conduzida mais belamente, e nela se possa deleitar mais geralmente”.

O cântico congregacional foi tão importante para o movimento Puritano como foi para o luteranismo na Alemanha. Um contemporâneo registrou tal prática assim:

A prática de cantar juntos a música da igreja muito nos tem ajudado. Pois tão logo haviam começado a cantar em público, em apenas uma pequena igreja de Londres, imediatamente não apenas as igrejas na vizinhança, mas até nas cidades distantes começaram a competir umas com as outras na mesma prática. Você pode às vezes ver na Igreja St. Paul's Cross, após o culto, seis mil pessoas, velhos e jovens, de ambos os sexos, todos cantando juntos e louvando a Deus.

Em resumo, os Puritanos restauraram o direito do povo comum de se unir no louvor a Deus.

O culto Puritano culminava no sermão, e isto pode hoje parecer contradição a idéia de participação congregacional. Mas os Puritanos enfaticamente não consideravam o sermão uma atividade espetacular. De acordo com o Jesuíta William Weston, que presenciou os exercícios de pregação nas ruas em Wisbech, as pessoas que assistiam tinham suas Bíblias abertas no colo e examinavam os textos citados pelos pregadores. Depois do sermão “eles também argumentavam, entre si, sobre o sig­nificado de vários textos da Escritura, todos eles, homens e mulheres, rapazes e moças, trabalhadores, operários e o povo mais simples”. Anotações durante os sermões e repetição do sermão em casa também atestam sobre quanto os Puritanos esperavam de seus ouvintes. Em comparação, teria sido mais fácil permanecer mentalmente passivo durante a leitura das palavras de um livro de oração.

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Fonte: Santos no Mundo, Leland Ryken, Editora Fiel, 1992, pág. 133-134.

Extraído do site: http://www.eleitosdedeus.org/adoracao/participacao-congregacional-no-culto-leland-ryken.html#ixzz0xclNSGSb

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A Música Aceitável a Deus

Dr. W. Robert Godfrey


Na guerra da adoração dos anos recentes, batalhas as mais sórdidas têm surgido com ímpeto em relação à música. O que devemos cantar? Quem deve cantar? Quais melodias devemos cantar? Quais instrumentos devem acompanhar o cântico da igreja – se algum? Via de regra parece que exércitos que se prepararam nos lados diversificados da questão têm lutado debaixo da bandeira da preferência. O que gostamos e o que nos toca? Preferências têm levado a tendência de colocar pessoas mais velhas contra as mais jovens e as experientes contra as inexperientes.

Mas, quão seriamente temos pensado teológica e biblicamente sobre a música? Em que quantidade as nossas convicções e práticas são moldadas pelo Novo Testamento? Neste artigo, examinaremos alguns dos ensinamentos-chave da Bíblia sobre música e cântico, e tentaremos relacioná-los com a história da reflexão reformada e assuntos contemporâneos.

Música na Bíblia:

A música não é um elemento proeminente no Novo Testamento. Bandas e corais não acompanhavam a pregação de Jesus. Não há evidência de instrumentos musicais nas sinagogas descritas no Novo Testamento. Música na igreja parece estar ausente nos Atos dos apóstolos – embora Paulo tenha cantado na prisão e louvores tenham sido apresentados nas igrejas. A única referência, não ambígua, de música nas igrejas é em I Coríntios 14:26 – embora Colossenses 3:16 (e.g., Efésios 5:19) possa muito bem refletir as atividades de adoração pública. Nenhum instrumento é mencionado em relação com o culto das igrejas do Novo Testamento.

A música parece de alguma forma mais proeminente no culto celestial descrito no livro de Apocalipse. Esta proeminência adicionada reflete provavelmente a correspondência entre o templo celestial e a música do templo terreno do Antigo Testamento. No templo veterotestamentário , instrumentos musicais e corais acompanhavam especialmente a oferta de sacrifícios (II Crônicas 29:25-36). Mesmo assim, na adoração celestial como descrito no livro de Apocalipse, o único instrumento musical citado é a harpa (e.g., Apocalipse 5:8.) – e a harpa é provavelmente colocada como um símbolo de louvor ao invés de uma referência literal de harpas no céu (ver Apocalipse 14:2).

Se o culto da igreja do Novo testamento é um modelo para a igreja de hoje, sério re-exame de práticas contemporâneas se faz necessário. A música – tão periférica no Novo Testamento – tornou-se central e crucial em nossos dias. Corais, solos e música especial ocupam um tempo considerável no culto. Debates logo "pegam fogo" no que diz respeito ao estilo de música entre os campeões desde o clássico ao contemporâneo.

Para muitos membros das igrejas parece que a música tem se tornado um novo sacramento. Um cântico intenso e prolongado é visto como um meio em que Deus vem abençoar o adorador e em que o cantor busca experiências transcendentais com Deus. Esta experiência é tão importante que muitos julgam uma igreja com base no caráter e qualidade de sua música. Em muitas igrejas a quantidade de tempo gasto em oração, leitura da Bíblia e pregação são reduzidos para que mais tempo possa ser dado à música.

Cristãos reformados em particular têm buscado seguir o ensinamento da Escritura na adoração. Eles acreditam que apenas as orientações ou exemplos da Bíblia podem guiar nossa adoração. Esta convicção flui das palavras da própria Bíblia (e.g., Colossenses 2:23 e Mateus 15:6) . Teologicamente, a paixão reformada pelo culto fiel e bíblico flui de avisos fortes na Escritura contra a idolatria. Idolatria é tanto o culto a um falso deus quanto o culto falso ao verdadeiro Deus. Idolatria é uma violação do primeiro ou do segundo dos Dez Mandamentos. O compromisso reformado com o culto bíblico deve ser aplicado à música como a todos os outros aspectos do culto.

Embora a música pareça ser um elemento relativamente secundário no Novo Testamento, é ainda um dos elementos. Jesus cantou com seus discípulos na Última Ceia e a Igreja de Corinto claramente cantou (como a Igreja de Colossos muito provavelmente cantou). Cantar é um elemento que tem sua propriedade, um ato distintivo na adoração. Pode funcionar de um jeito similar aos outros elementos. Pode compartilhar funções com o ensino e a pregação, por exemplo, mas mesmo assim permanece como um elemento distinto (Do mesmo modo, a leitura da Bíblia, pregação e a benção podem todos usar as mesmas palavras da Bíblia e todos têm em parte uma função de ensinamento, embora permaneçam elementos distintos de adoração). Como um elemento distinto, precisa ser entendido em termos de sua função singular no culto sendo dirigido pelas Escrituras.

Que tipo de cântico deve ser um elemento do culto Cristão? As palavras usadas para cântico no Novo Testamento ("salmos", "hinos" e "cânticos") não são termos técnicos, mas simplesmente parecem referir-se a músicas. (No grego do Antigo Testamento, estas três palavras são usadas para referir-se aos Salmos Canônicos.) Por exemplo, é dito que Jesus contou um hino (Mateus 26:30) em que certamente um dos salmos canônicos foi utilizado. Em contra partida, o salmo citado em I Coríntios 14:26 provavelmente não é um salmo canônico (alguns acham que se tratava de um cântico revelacional – NE). Veja também as referências de cânticos em Romanos 15:9, I Coríntios 14:15 e Tiago 5:13. O tipo de cântico usado no Novo Testamento não pode ser confirmado pelas palavras disponíveis. Outras indicações são necessárias para saber o que deve ser cantado.

Muitos argumentam que os cristãos estão livres para compor e cantar qualquer música que seja ortodoxa em seu conteúdo. O argumento permeia o raciocínio de que cantar louvores ao Senhor é semelhante à oração. Visto que estamos livres para formular nossas orações, estamos livres para compor músicas. Mas não é auto-evidente que a música deva ser semelhante a oração. Talvez deva ser similar à leitura das Escrituras. [1] O elemento cúltico da leitura da Escritura é limitado à leitura da Palavra inspirada, canônica. Tal limitação pode não parecer ser necessariamente severa, logicamente. Muitos escritos ortodoxos e edificantes produzidos por cristãos podem talvez ser lidos no culto. Porém, a maioria concordaria que deveríamos ter como um ato de culto a leitura das palavras inspiradas de Deus (veja I Timóteo 4:13).

Como reflexão, pelo menos na adoração veterotestamentária , cantar parece mais com a leitura da Escritura do que com a oração, porque enquanto o Velho Testamento não tem um livro de oração, ele tem um livro de cânticos. Deus, por uma razão que possa nos frustrar, providencia cânticos inspirados para o culto, mas não orações. Verdadeiras razões podem ser levadas em conta para a necessidade de músicas inspiradas. A música é uma atividade do povo de Deus que os une em uma atividade de resposta altamente emocional a Deus. A emoção elevada da música e seu potencial para abusos talvez possam ser uma razão para que Deus tenha inspirado as palavras para aquela resposta do povo de Deus. Também, a oração e pregação no culto público nas igrejas reformadas são elementos executados por líderes ordenados. A igreja separou líderes que são vocacionados, examinados, chamados e ordenados para a obra. Os cânticos que são "livres" raramente possuem estes padrões de cuidado e supervisão.

Claramente os Salmos canônicos foram designados para cantar, o que Jesus e seus discípulos fizeram na última ceia. Certamente, a chamada de Paulo para cantar "salmos, hinos e cânticos espirituais" abrange o convite para cantar Salmos canônicos [2]. No mínimo, portanto, devemos concluir dos exemplos e ensinamentos da Escritura que cantar os Salmos canônicos devem ser uma parte significativa do cântico da Igreja.

Demonstrações do Valor em Cantar os Salmos.

Deixe-me listar alguns dos argumentos mais fortes para se cantar os Salmos:

  • Os Salmos são inspirados, foram feitos para serem cantados, e são certamente ortodoxos no conteúdo. Cantar Salmos é ordenado por Deus; é certo que Lhe é agradável e é um excelente meio de guardar Sua Palavra em nossos corações. Pelo menos os Salmos precisam ser um elemento central do cântico da igreja e deve ser um modelo para tudo que é cantado. Eles são o padrão inspirado de louvor.
  • Os Salmos são cânticos equilibrados. Eles equilibram a declaração da verdade de Deus e Sua obra com nossa resposta emocional. O equilíbrio entre verdade e resposta do coração é delicado e difícil. Nossos cânticos podem ser ou muito informativos e doutrinários ou muito subjetivos e antropocêntricos.
  • Os Salmos nos providenciam cânticos que têm o alcance completo das respostas emocionais apropriadas para com a obra de Deus e nossa situação. Em algumas épocas da Igreja, hinos pareciam primariamente cheios de arrependimento. Em nossa época, eles parecem primariamente cheios de alegria. Os Salmos equilibram a confusão humana, frustração, aflição, tristeza e raiva com alegria, louvor, benção e ações de graça.
  • Os Salmos nos relembram que vivemos em um mundo de conflito. Eles imprimem em nós um mundo bíblico de pensamento em que há uma antítese já presente entre o justo e o ímpio, o santo e o iníquo. (Apenas dois Salmos, acredito, não fazem esta oposição explicitamente). Quão infrequentemente esta antítese é encontrada em muitos hinos.
  • Os Salmos nos relembram que somos o verdadeiro Israel de Deus. Nós herdamos a história, as promessas e a condição de Israel do Velho Testamento e devemos nos identificar com aquele Israel (cf. Efésios 2-3, Romanos 9-11, Hebreus 11-12, I Pedro 1-2, Tiago 1:1, Gálatas 6:16). Especialmente quando nos encontramos num mundo politeísta crescente, o foco monoteísta dos Salmos é valioso para a Igreja.
  • Os Salmos são cristocêntricos. Jesus testificou que os Salmos foram escritos sobre Ele (Lucas 24:44-45). Martinho Lutero chamou o Salmo de "uma pequena Bíblia" e o achou cheio de Cristo. Um ditado antigo da Igreja declara: " Sempre in ore psalmus, sempre in corde Christus " ("sempre um salmo na boca, sempre Cristo no coração"). Os Salmos contêm profecias explícitas de Cristo (e.g., Salmos 22 e 110). Eles são cheios de tipos que iluminam a pessoa e obra de Cristo. Eles descortinam sua obra redentiva em várias perspectivas. A Igreja deve evitar a tendência do liberalismo e dispensacionalismo, de ambos, e perder de vista Cristo nos Salmos além de perder a continuidade de Israel do Velho Testamento no Novo Testamento.

João Calvino reconhecia o valor de se cantar os Salmos. Ele instituiu grandes reformas litúrgicas na Igreja de Genebra depois da reflexão cuidadosa no caráter e papel da música na Igreja. (Em Genebra, a Igreja cantava os Salmos em uníssono sem qualquer acompanhamento musical). A maioria das igrejas reformadas na Europa seguiu a prática de Genebra e o cântico de Salmos tornou-se uma das marcas distintivas das igrejas Reformadas.

Alguns Calvinistas foram além de Calvino, argumentando que os Salmos eram os únicos cânticos permitidos no culto divino. Esta posição era argumentada com um particular vigor na Escócia, onde os Presbiterianos enfrentaram repetidas pressões governamentais para abandonarem suas formas distintivas de culto. Os escoceses responderam que deveriam obedecer a Deus ao invés do homem e aplicaram este princípio na defesa da salmodia exclusiva. Sérios debates nesta questão tomaram lugar entre os Calvinistas nos séculos XVIII e XIX quando algumas Igrejas Reformadas introduziram o uso de hinos no culto.

Objeções contra Maior Uso da Salmodia:

Pode ser útil considerar seis objeções comuns contra o maior (ou possivelmente até exclusivo) uso dos Salmos, e oferecer respostas justas a elas.

Objeção 1: "As imprecações dos Salmos (i.e., aquelas frases chamando Deus para julgar seus inimigos) reflete uma posição ética sub-cristã".

Esta objeção falha em entender a natureza das imprecações bíblicas. As imprecações não são a oração pessoal do cristão contra inimigos pessoais, mas são as orações de Cristo e da Igreja contra os inimigos de Deus. Eles, realmente, não são diferentes das orações da Igreja para o retorno de Cristo que trará tanto benção quanto julgamento.

Objeção 2: "O Novo Testamento autoriza o uso de hinos não-inspirados: Colossenses 3:16 (Efésios 5:19), I Coríntios 14:26 e hinos fragmentados citados no Novo Testamento".

Esta objeção não é tão clara quanto parece. A) Nem Colossenses 3:16 nem Efésios 5:19 referem-se sem ambigüidade ao culto público ou uso livre de cânticos não-inspirados nesta adoração. As palavras nestes versos para cântico podem todas referissem aos Salmos canônicos – ver NE. B) I Coríntios 24:26, acredito, realmente refere-se a outros cânticos além dos Salmos canônicos. Mas, estes outros cânticos são muito provavelmente cânticos inspirados pelo Espírito por meio da liderança dotada pelo Espírito na igreja primitiva. (O salmo, doutrina, revelação, línguas e interpretação das línguas neste texto tudo parece para mim inspirados divinamente).[3] Aqueles cânticos inspirados, porém, não foram preservados como uma parte da Escritura para o uso da Igreja Universal. C) Fragmentos de poemas na realidade parecem ser referências de autores bíblicos em partes no Novo Testamento. Estes fragmentos não podem, com qualquer certeza, serem vistos como cânticos, muitos menos cânticos usados no culto público.

Objeção 3: "Os Salmos parecem estranhos quanto a sua forma poética e o fluir de pensamento".

Esta observação é verdadeira até certo ponto. Aqueles familiarizados com hinos estão acostumados com um fluir de pensamento e forma poética que são comuns ao mundo ocidental. Em tal mundo, os Salmos realmente parecem estranhos. Mas, visto que os Salmos são inspirados por Deus, devemos desprender mais esforços para apreciar o porquê deles terem a forma que possuem e o que podemos aprender deles. (Devemos resistir a tendência comum, com respeito as músicas da igreja, e apenas gostar do que é familiar porque é familiar! Esta tendência é encontrada entre os devotos a todos os tipos de música da igreja). Certamente, a própria estranheza dos Salmos pode revelar a nossa necessidade deles. Talvez John Updike tenha capturado este raciocínio quando escreveu sobre "as pontas dos dedos sensibilizados pela lixa de um credo abrasivo".[4]

Objeção 4: "Cantar os salmos metrificados não é o mesmo que cantar os verdadeiros Salmos canônicos".

Uma boa versão metrificada dos Salmos não apenas dá uma tradução bem próxima dos Salmos, mas também busca traduzir poesia hebraica em uma forma poética ocidental. Comunicar algo em forma poética juntamente com a tradução verbal é um ponto forte dos salmos metrificados.

Objeção 5: " Nós não temos melodias inspiradas para cantar os Salmos ".

Verdade, não temos melodias inspiradas. Deus deixou livre seu povo para compor melodias de várias culturas e bases históricas para ajudar no cântico dos Salmos. Dois critérios deveriam salvaguardar adequadamente a Igreja em escrever e escolher suas melodias: primeiro , as melodias devem ser apropriadas ao conteúdo dos Salmos, e segundo , elas devem ser fáceis de cantar pela congregação.

Objeção 6: "Os Salmos não são suficientemente Cristocêntricos".

A elaboração desta objeção sugere que em cada estágio da história da redenção no Velho Testamento (e.g., estabelecimento da economia Mosaica, a celebração do reinado Davídico e o exílio), novos cânticos foram adicionados no cânon. É mais provável, então, no mais importante desenvolvimento da história da redenção – a real revelação do Salvador – que novos cânticos acompanhariam a Nova Aliança em Cristo. A objeção argumenta que devemos obviamente celebrar o nome e obra do Salvador nos termos mais explícitos possíveis. Esta objeção é certamente a mais significativa e pesada contra qualquer salmodia exclusiva (ou quase na totalidade exclusiva). Várias respostas podem ser oferecidas.

  • Esta objeção, como dita, é abstrata e especulativa, uma falta na reflexão teológica Reformada. Apenas a Escritura pode nos falar quais cânticos são precisos para celebrarem a Nova Aliança. Muitos elementos no culto da Igreja serão explicitamente da Nova Aliança: algumas leituras da Bíblia, algumas bênçãos, sermões, orações, Sacramentos. Mas, devem todos ser? O culto como um todo deve ser explicitamente da Nova Aliança, mas todo elemento deve ser? Apenas a própria Escritura pode responder esta questão.
  • Os Salmos não são uma exposição completa e explícita e uma celebração da Antiga Aliança. Muitos aspectos da história de Israel, lei e sacrifícios não são mencionados nos Salmos. Instituições chaves como o Sábado cerimonial e os ofícios proféticos são quase que totalmente ausentes. Ninguém poderia realmente reconstruir a economia mosaica pela evidência apenas nos Salmos. Claramente, os Salmos não buscaram comportar o caráter inteiro da Antiga Aliança.
  • Os cânticos inspirados da Nova Aliança, tal como aqueles que estão no livro de Apocalipse, não são mais Cristocêntricos explicitamente do que os Salmos. O nome de Jesus não é usado e Ele é chamado de Cordeiro (Ap. 5 e 19), o Cristo (Ap. 11), Deus e Rei (Apocalipse 15). Tudo isto são títulos encontrados no Antigo Testamento. A distinção entre velho cântico da criação e o novo cântico da redenção, encontrados no livro de Apocalipse (caps. 4 e 5), é um distintivo tomado do Saltério (Salmos 40:3, 96:1, 98:1, 149:1). O Saltério é rico em novas canções da redenção.
  • Os títulos e tipos usados sobre Cristo no Antigo Testamento de forma genérica e no Saltério particularmente, não O esconde, mas na realidade O revela, explicando quem Ele é e o que Ele fez. (Títulos e tipos tais como: Senhor, Pastor, Rei, Sacerdote, templo, etc). Sem o rico pano de fundo da religião do Antigo Testamento, não entenderíamos a pessoa e obra de Cristo tão completos quanto conhecemos. Na verdade, estes títulos e tipos não são completamente compreensíveis até a vinda de Jesus. Neste sentido, o Saltério pertence mais a Nova Aliança do que a Velha. Também; neste sentido, o Saltério é mais útil para a Igreja do Novo Testamento do que era para o povo da Antiga Aliança.

Opiniões provavelmente continuarão a divergir sobre a persuasão dos argumentos para o uso exclusivo dos Salmos para o cântico no culto público. Espero que estas reflexões sobre o valor dos Salmos, contudo, encorajem todos os Cristãos para o maior uso dos Salmos. Minha própria experiência tem sido que quanto mais eu os canto, mais os amo e mais sinto a plenitude da expressão religiosa deles em louvor a Deus. Na guerra da música que assedia a Igreja hoje, os Salmos são pouco considerados ou apreciados. Certamente é irônico que aqueles que amam a Bíblia pareçam freqüentemente desinteressados em cantá-los – e aprendê-los daquela maneira. Nós certamente precisamos dos Salmos para o nosso bem-estar espiritual.


Notas:

[1] Ver os artigos do Sherman Isbell sobre o cântico dos Salmos na The Presbyterian Reformed Magazine , começando no verão, edição de 1993.

[2] Nota do Editor – Extraído de Exclusive Psalmody, Brian M. Schwertley, pp 19-25 – Duas passagens cruciais no debate sobre a exclusividade do cântico de Salmos, são Efésios5:19 e Colossenses 3:16. Essas passagens são importantes, porque são usadas por ambos os lados, os que defendem o uso exclusivo dos Salmos e os que defendem o uso de hinos não inspirados na adoração. Paulo escreveu:

"E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos , entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais (Efésios 5:18-19).

"Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais , com gratidão, em vosso coração" (Colossenses 3:16).

Antes de considerarmos a questão de como essas passagens estão relacionadas com a adoração pública, vamos considerar primeiro a questão "o que Paulo quis dizer com as expressões, Salmos, Hinos e Cânticos Espirituais?" Estas questões são muito importantes para os defensores da hinodia não-inspirada (aqueles que dizem ser adeptos do Princípio Regulador) que apontam para essas passagens como prova de que os hinos não-inspirados são permitidos por Deus para serem utilizados na adoração pública. Quando examinamos passagens como Efésios 5:19 e Colossenses 3:16, não podemos cometer o erro comum de tomar o significado moderno de uma palavra, como "hino" hoje, aplicando-o àquele em que Paulo escreveu a dois mil anos atrás. Quando uma pessoa ouve a palavra "hino", ela imediatamente pensa nos hinos extrabíblicos, os hinos não-inspirados encontrados nos bancos das Igrejas de hoje. A única forma de se determinar o real significado do que Paulo quis dizer com as palavras, "salmos, e hinos, e cânticos espirituais", é determinar como esses termos foram usados pelos cristãos de língua grega no primeiro século.

Quando interpretamos a terminologia usada por Paulo em suas epístolas, há necessidade de observarmos algumas regras de interpretação.

Primeiro, o pensamento religioso que dominava a mente e a cosmovisão do Apóstolo, era a mesma do Velho Testamento e de Jesus Cristo, não a do paganismo grego. Portanto, quando Paulo discute doutrina ou adoração, o primeiro lugar onde devemos buscar auxílio para o entendimento dos termos religiosos, é no Velho Testamento. É comum encontramos expressões ou termos hebraicos expressos em grego coinê.

Segundo, temos que ter em mente, que as Igrejas que Paulo fundou na Ásia, consistia de judeus convertidos, gentios prosélitos do Velho Testamento (tementes a Deus) e gentios pagãos. Essas Igrejas possuíam a versão grega do Velho Testamento chamada de Septuaginta. Quando Paulo expressou idéias do Velho Testamento, para uma audiência de gentios de fala grega, ele usou a terminologia religiosa usada pela Septuaginta. Se os termos hinos (hymnois) e cânticos espirituais (odais pneumatikois), tivessem sido definidos dentro do Novo Testamento, não haveria necessidade de procurarmos significados para eles na Septuaginta. Mas, uma vez que esses termos são raramente usados no Novo Testamento e não podem ser definidos dentro do contexto imediato à parte do conhecimento do Velho Testamento, seria, no mínimo irresponsável exegeticamente, ignorar como essas palavras eram usadas na versão Septuaginta do Velho Testamento.

Quando examinamos a Septuaginta, verificamos que os termos salmos (psalmos), hinos (hymnos) e cânticos (odee), referem-se claramente ao livro dos Salmos do Antigo Testamento e não a antigos e modernos hinos ou cânticos não inspirados. Bushell escreve: " Psalmos (...) ocorre 87 vezes na Septuaginta, desses, 78 aparecem nos salmos mesmos, sendo que 67 são títulos de salmos. Da mesma forma, o título da versão grega do saltério (...) hymnos (...) ocorre 17 vezes na Septuaginta, 13 das quais estão nos Salmos, sendo que 6 são títulos. Em I Samuel , I e II Crônicas e Neemias há cerca de 16 exemplos nos quais os Salmos são chamados "hinos"( hymnoi ) ou "cânticos"( odai ) e para o cântico deles a palavra utilizada significa "cantar louvor" (hymneo, hymnodeo, hymnesis )N.T.. Odee (...) ocorre umas 80 vezes na Septuaginta, 45 das quais nos Salmos, 36 nos títulos dos Salmos (Michael Bushell, The Songs of Zion , pp. 85-86) . Em doze títulos nós encontramos ambos, "salmos" e "cânticos"; e em dois outros "salmos" e "hinos". O Salmo 76 é designado como "salmo, hino e cântico" (na versão portuguesa ARA não aparece a palavra hino, N.T.). No final dos primeiros setenta e dois salmos, nós lemos: " Findam-se os hinos(ARA: orações) de Davi, filho de Jessé " (Salmos72:20). Não há razão alguma para pensarmos que o Apóstolo Paulo estava se referindo a "salmos" como coisa diferente de "hinos e cânticos", pois todos os três termos se referem a salmos no próprio livro de Salmos (G.I. Williamson, The Singing of Praise in the Worship of God , p. 6.) . Ignorar como a audiência de Paulo, na época, teria entendido estes termos, bem como a forma como são definidos pela Bíblia, e aplicar-lhes significados modernos, não-bíblicos, seria uma prática exegética deficiente.

Uma das objeções mais comuns contra a idéia de que Paulo em Efésios5:19 e Colossenses 3:16, está falando do livro dos Salmos, é que seria absurdo ele dizer, "cantando salmos, salmos e salmos". Essa objeção falha ao considerarmos o fato que um método comum de se expressar na antiga literatura judaica, era a forma triádica de expressão para designar uma idéia, ação ou objetos. A Bíblia contém muitos exemplos da forma triádica de expressão, a saber: Ex.34:7 – " iniqüidade, transgressão e o pecado "; Deut 5:31 e 6:1 – " mandamentos, estatutos e juízos "; Mt 22:37 – " de todo o teu coração, de toda tua alma e de todo teu entendimento " (Marcos 12:30; Lucas 10:27); Atos 2:22 – " milagres, prodígios e sinais "; Efésios 5:19 e Colossenses 3:16 – " salmos, hinos e cânticos espirituais ". "A tríplice distinção usada por Paulo, seria prontamente entendida por aqueles que já estavam familiarizados com seus Saltérios Hebraicos do Velho Testamento e a Septuaginta, onde os títulos dos salmos são distinguidos como salmos, hinos e cânticos. Esta interpretação faz justiça à analogia da Escrituras, isto é, a Escritura é seu melhor intérprete" (J.W. Keddie, Why Psalms Only? , p. 7) .

A interpretação de que "salmos, hinos e cânticos espirituais" se referem ao livro inspirado de Salmos, também recebe apoio da gramática e do contexto imediato e onde se encontram estas passagens. Em Colossenses 3:16, somos exortados: "Que a palavra de Cristo habite em vós ricamente... " nesta passagem a palavra de Cristo é claramente sinônimo da Palavra de Deus. "Em I Pedro 1:11 é dito que " o espírito de Cristo " estava nos profetas do Velho Testamento e através deles testificava de antemão dos sofrimentos de Cristo e da glória que os seguiriam. Se, como é dito, o Espírito de Cristo testificou dessas coisas através dos profetas, então Cristo foi o verdadeiro autor das Escrituras. Proeminente entre estas profecias referentes a Cristo está o livro de Salmos; conseqüentemente, Cristo é o autor dos Salmos" (M.C. Ramsey , Purity of Worship [Presbyterian Church of Eastern Australia: Church Principles Committee, 1968 ], p. 20 ) . Depois de Paulo exortar a Igreja de Colossos a que a palavra de Cristo habite ricamente neles, imediatamente lhes aponta o livro de Salmos; o livro que compreende "de maneira mais sucinta e bela tudo que se contém em toda a Bíblia;" (Martin Luther, "Preface to the Psalter, [1528] 1545 " Luther's Works (tr. C.M. Jacobs; Philadelphia: Muhlenberg Press, 1960) Vol. XXXV, p. 254) um livro muito superior a qualquer livro devocional humano, sobre o qual Calvino declarou ser, "uma anatomia de todas as partes da alma" (John Calvin ,Commentary on the Book of Psalms (tr. James Anderson; Edinburgh: Calvin Translation Society, 1845), Vol. I, pp. xxxvi-xxxix. ) , um livro que é "um compêndio de toda divindade" ( Basil, citado in Michael Bushell, The Songs of Zion , p. 18 ) . Você acha que as Escrituras, a palavra de Cristo, está habitando em nós, quando cantamos hinos de composições não-inspiradas em nossos cultos? Não, não está! Se temos que cantar e meditar na palavra de Cristo, temos que cantar as palavras que Cristo escreveu pelo Seu Espírito – o livro de Salmos.

A gramática também apóia a afirmação de que Paulo estava falando do livro de Salmos. Na Bíblia em inglês, o adjetivo "espiritual" aplica-se somente à palavra cânticos (cânticos espirituais). Na língua grega, no entanto, quando um adjetivo imediatamente segue dois outros substantivos, isto se aplica a todos os outros substantivos precedentes. John Murray escreve, "Porque a palavra pneumatikos – espiritual – (Devemos ter muito cuidado para não dar à palavra "espiritual" dessas passagens o moderno significado de "religioso". A palavra "espiritual" aqui se refere a alguma coisa que procede do Espírito de Deus, e é, portanto, "inspirada" ou "soprada por Deus". B. B. Warfield escreve o seguinte sobre pneumatikos : "das vinte e cinco vezes em que a palavra ocorre no Novo Testamento, em nenhuma dessas referências ela desce tanto a ponto de referir-se ao espírito humano; e em vinte e quatro delas deriva-se depneuma , o Espírito Santo. O uso neotestamentário da palavra com o significado de pertencer a, ou de ser ordenada pelo Espírito Santo é uniforme, com a exclusiva exceção de Efésios 6:12 onde, ao que parece, ela se refere a inteligências superiores, mas sobre-humanas. Em cada um dos casos, a sua tradução apropriada é: concedida pelo Espírito, ou conduzida pelo Espírito, ou determinadas pelo Espírito" (The Presbyterian Review , Vol. 1, p. 561 [July 1880] quoted in Michael Bushell, The Songs of Zion , pp. 90-91 ) , qualifica odaise não salmoi e himnoi? A resposta mais razoável a esta questão é que a palavra pneumatikoi , qualifica todos os três dativos, e que o seu gênero (feminino), é devido a atração ao gênero do substantivo que está mais próximo. Uma outra possibilidade distinta, feita particularmente plausível pela omissão da copulativa em Colossenses 3:16, é que "cânticos espirituais", são gêneros e "salmos" e "hinos" são espécies. Esta, por exemplo, é a visão de Meyer. Em qualquer dessas afirmações, salmos, hinos e cânticos, são todos "Espirituais" e portanto, todos inspirados pelo Espírito Santo. A relação disso com o assunto em questão é perfeitamente visível. Hinos não-inspirados estão conseqüentemente excluídos " (John Murray, "Song in Public Worship" emWorship in the Presence of God , (ed. Frank J. Smith and David C. Lachman, Greenville Seminary Press, 1992), p. 188) . Se alguém quiser argumentar que espiritual não se aplica a salmos e hinos, então precisa responder duas questões pertinentes.

Primeira, porque Paulo insistiria nas inspirações dos cânticos, e ao mesmo tempo permite hinos não-inspirados? Podemos assegurar tranqüilamente que Paulo não era irracional.

Segunda, admitindo como fato, que salmos se referem a cânticos divinamente inspirados, seria não-bíblico não aplicar a "espirituais" o mesmo sentido. E depois, desde que já admitimos que salmos, hinos e cânticos espirituais se referem ao livro divinamente inspirado dos Salmos, é apenas natural aplicar espiritual, como sendo inspirados, a todos os três termos. Desde que o livro de Salmos é composto de salmos, hinos e cânticos espirituais ou divinamente inspirados, obedecemos a Deus somente quando O adoramos utilizando o saltério bíblico; hinos não-inspirados, não satisfazem o critério da adoração autorizada.

Uma outra questão que precisa ser considerada, tendo em vista essas passagens, é: "Essas passagens se referem ao culto, ou aos ajuntamentos informais dos crentes? Uma vez que Paulo está discutindo a mútua edificação dos crentes através do louvor inspirado, seria inconsistente de sua parte, permitir cânticos não inspirados no culto ou em qualquer outro ajuntamento. "O que é impróprio ou próprio para ser cantado em um caso, deve ser impróprio ou próprio para ser cantado em outro. Adoração é ainda adoração, sejam quais forem as circunstâncias, não importando o número de pessoas envolvidas" (Michael Bushell, The Songs of Zion, pp. 83-84) . "Se salmos, hinos e cânticos espirituais são os limites do material de cânticos para o louvor de Deus, nos atos menos formais de adoração, quanto mais eles serão limites no ato mais formal de adoração" (J. Murray e W. Young, "Minority Report," Minutes of the Orthodox Presbyterian Church (14 th General Assembly, 1947), p. 61, conforme citado em Michael Bushell , The Songs of Zion , p. 84) .

[3] Ver meu artigo, "Leadership in Worship", The Outlook , Dec. 1992, para o argumento.

[4] John Updike, A Month of Sundays (New York: Alfred A. Knopf, 1975), 136.


Nota sobre o autor: W. Robert Godfrey (Ph.D., Stanford), um membro do conselho da Alliance of Confessing Evangelicals, é presidente e professor de história da igreja no Westminster Theological Seminary na Califórnia.


Fonte: http://www.monergismo.com/textos/liturgia/musica_aceitavel_geoffrey.htm.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Saltério de Genebra: Gravações

Há diversas gravações disponíveis de seleções do Saltério de Genebra. A lista a seguir é uma amostra pequena:

Chansons et Psaumes de la Réforme: Contém gravações dos salmos franceses, incluindo canções dos primeiros saltérios franceses reformados.

Sacred Bridges: Contém gravações do Saltério de Genebra em francês e na inesperada tradução para o turco (!) feita por Ali Ufki, um polonês que foi sequestrado e enviado para o lado otomano no século XVII.

Sweelinck: Contém arranjos para o Saltério de Genebra compostos pelo compositor e organista holandês Jan P. Sweelinck.

Psaumes de la Réforme: Com gravações decentes com instrumentação e tudo em francês, exceto, talvez, o livrinho que vem junto.

Gravações caseiras: Diversas, incluindo uma de partes do Saltério de Genebra em Japonês (!) ao som do órgão.

Music of the Genevan Psalter: em inglês e holandês, com órgão e outros instrumentos, diversos arranjos, incluindo arranjos-prelúdio e arranhos polifônicos. Gravado por pessoal ligado ao Calvin College.

Salmo 110

1
O Senhor disse assim ao meu senhor:“Vem te_assentar à destra minha,_aqui,Até que_eu ponha os teus inimigosAli por bem debaixo dos teus pés”.

2
O Senhor vai mandar de Sião o cetroDo seu poder, e vai, assim, dizer:“Domina entre os teus inimigos”“Domina, sim, os inimigos teus!”

3
Teu povo vai se_apresentar, alegre,Naquele dia que_é do teu poder:Tal como o orvalho a subir, quevem da aurora, teus jovens serão.

4
Javé jurou sem arrependimento:(Oh, ele não se arrependerá!)“Segundo_a ordem de MelquisedequeUm sacerdote para sempre_és tu”.

5
O Senhor vai, no dia da sua ira,À tua destra esmagar os reis.Entre os povos dá seu veredictoE de defuntos enche as nações.

6
Ele_há de esmagar várias cabeçasIsso fará por toda terra,_enfim!Pelo caminho, bebe na torrenteE de cabeça_erguida passará.

(Revisão: Lucas G. Freire, jun. 2009)

O significado de Salmo

Renê Antuane e Lucas G. Freire

Salmo significa um cântico cantado com a harpa, mas então porque os defensores da salmodia exclusiva defendem a não ultilização dos instrumentos musicais?

A resposta para essa pergunta é ao mesmo tempo simples e profunda. Simples porque os instrumentos Musicais no Antigo Testamento foram ordenados por Deus para serem usados somentes pelos Levitas e durante os sacrifícios de animais no Templo.

Profunda porque o Templo Judeu com suas cerimônias representavam a pessoa e a obra de Cristo, no caso dos instrumentos musicais ao serem tocados pelos levitas durante os sacrifícios representavam que aquilo que estava morto ganhou vida por meio da morte de Cristo.

Quando a igreja canta um salmo que pede perdão, o instrumento é quem louva a Deus por meio de Cristo.Quando a igreja canta um salmo de agradecimento a Deus por recompesá-la por sua justiça, Cristo é quem está louvando a Deus usando o instrumento, pois nós somos como uma harpa em suas mãos, sem ele não haveria como dar vida a nós mesmos. Então o verdadeiro cantor dos Salmos é Cristo a harpa que ganhou vida somos nós...

Dois fatos curiosos: 1. Mesmo com toda a rebeldia presente naquele tempo, o povo de Deus jamais introduziu instrumentos musicais no culto antes de o próprio Deus ter ordenado provisões para que eles fossem introduzidos.

2. Fora do templo, os judeus antigos (até bem recentemente) jamais utilizaram instrumentos musicais. Afinal, fora do templo não há sacrifício. Na sinagoga havia canto, mas não havia acompanhamento com instrumentos. Quando o povo foi para o exílio, as harpas e salgueiros foram "pendurados", não porque cessaram de cantar - afinal há um salmo sobre essa assunto! - mas porque cessaram de ir ao templo.

Salmo 137:1,2 - 1.JUNTO dos rios de Babilônia, ali nos assentamos e choramos, quando nos lembramos de Sião. 2 Sobre os salgueiros que há no meio dela, penduramos as nossas harpas.

Este salmo nos mostra claramente que pelo fato do Templo nessa época tinha sido destruído e consequentemente não havia sacrifício, então eles sobre os salgueiros que haviam na Babilônia, penduraram as suas harpas. Isto é mais uma prova de que os instrumentos estavam ligados exclusivamente às cerimônias do Templo Judeu.

O uso ordinário dos instrumentos era durante os sacrifícios de animais feito no altar do TEMPLO e somente levitas eram autorizados a tocá-los, representando o seguinte: Nós que estávamos mortos como um instrumento, incapazes de adorar a Deus, ganhamos vida por meio de Cristo, por isso ao final do salmo 150 diz "tudo que tem vida louve ao Senhor" (ou seja, o que estava morto, ganhou vida por causa da morte do Cordeiro de Deus )Os próprios judeus não usaram instrumentos musicais nas sinagogas judaicas em louvor a Deus até cerca do ano 1810.

Sei que eles não interpretarão os serviços no templo como uma sombra da obra e da pessoa Cristo, mas ainda assim sabiam que tudo o que lá ocorria estava ligado ao ofício cerimonial dos sacerdotes e levitas que não mais existem... Os que defendem o uso litúrgico dos instrumentos no NT estão sendo inconcistente em suas interpretação pois estas mesmas pessoas não interpretam literalmente estes salmos abaixo:

Salmo 66:13,1513 Entrarei em tua casa com holocaustos; pagar-te-ei os meus votos, 14 Os quais pronunciaram os meus lábios, e falou a minha boca, quando estava na angústia. 15 Oferecer-te-ei holocaustos gordurosos com incenso de carneiros; oferecerei novilhos com cabritos. (Selá.)

Salmo 51: 1919 Entäo te agradarás dos sacrifícios de justiça, dos holocaustos e das ofertas queimadas; entäo se ofereceräo novilhos sobre o teu altar.

Sal 98:8 - Os rios batam as palmas; regozijem-se também as montanhas

Instrumentos, vestimentas sacerdotais, sacerdocio, louvor representativo (i.e., corais), incenso, holocaustos, sacrificios, festivais judaicos, etc. Todas essas coisas sao parte das ordenanças cerimoniais do culto judaico e nao ha indicio de que a igreja primitiva tenha continuado com elas. Assim tambem entenderam os reformadores do lado calvinista: Calvino aboliu o uso de instrumentos no culto, os puritanos seguiram o mesmo preceito. Na Holanda, os orgãos nao foram quebrados, mas nao foram usados no culto tambem ate o seculo 18. Ate o final da idade media mesmo os romanistas tinham vergonha suficiente para manter todo o sistema sacerdotal, mas ainda deixando de fora os instrumentos!

O CÂNTICO DE SALMOS SEM INSTRUMENTOS MUSICAIS

Renê Antuane

É fato que o cantar salmos sem utilização de instrumentos musicais era uma prática entre as igrejas reformadas da Inglaterra e Escócia do século XVII, mas alguém me dirá e o salmo 150?

Acontece que os salmos são escrituras proféticas e como tais usam muita linguagem representativa, como o TEMPLO que representava a pessoa e a obra de Cristo.

-O sacerdote comia nos sábados 12 pães sem fermento( sombra de Cristo que no descanço eterno aceita os eleitos, mas antes ELE o faz sem o pecado(fermento)

-O sacerdote queimava incenso diante dos santos dos santos(sombra de cristo que intercede por nós diante de Deus)-O candelabro que deveria ficar continuamente asceso(representando o Espírito Santo que nos da luz para o entendimento)

-Os sacrificios de animais( apontando para o sacrificio de Cristo)

-Agora a única hora que se usava os instrumentos era durante os sacrifícios de animais feito no altar do TEMPLO e somente levitas eram autorizados a tocá-los, representando o seguinte: Nós que estávamos mortos como um instrumento, incapazes de adorar a Deus, ganhamos vida por meio de Cristo, por isso ao final do salmo 150 diz "tudo que tem vida louve ao Senhor" (ou seja, o que estava morto, ganhou vida por meio da morte do Cordeiro de Deus )O TEMPLO JUDEU era apenas uma SOMBRA da pessoa e da obra de CristoPode-se dizer que o cântico de salmos sem instrumentos musicais era a prática MAJORITÁRIA de cultuar a Deus, nos primitivos tempos da história da igreja, vejam:

MÁRTIR: "O simplesmente cantar não agrada crianças (os judeus), mas o cantar acompanhados de instrumentos sem vida artificiais, de danças e de bater de palmas, lhes agrada muito. Por isto, o uso deste tipo de instrumentos artificiais e de outras coisas agradáveis a crianças foi removido das músicas das igrejas, e ficamos com o puro e singelo cantar acapela". (Justino Mártir, no ano 139 depois de Cristo. Mártir nasceu em 100 DC, ao tempo que João escrevia o Apocalipse ).

MÁRTIR: "O uso de música não foi recebido nas igrejas cristãs da maneira que ela era entre os judeus, no estado infantil deles, mas somente foi aceito pelas igrejas o uso do puro e desadornado cantar com os puros lábios, acapela." (Justino Mártir, 139 AD. Voltamos a ter crianças entre nós, Nadabes teimosamente amantes de modismos, outros de decibéis, outros de palmas, danças, ritmos).

CLEMENTE: "Ademais, Rei Davi, o Harpista de quem falamos acima, nos incitou à verdade e para longe dos ídolos. Tão distante estava Davi de cantar os louvores de demônios, que estes foram postos em fuga por ele, com a verdadeira música; e quando Saul estava possesso, Davi o curou meramente por tocar a harpa não é dito que Davi cantou!. Em contraste O Senhor como supremo artífice formou no homem um o mais lindo instrumento, que respira com vida, criado à Sua própria imagem. Seguramente Ele mesmo o Cristo é um instrumento de Deus, totalmente harmônico, melodioso e santo, a sabedoria acima deste mundo, a Palavra celestial" ... "Aquele que brotou de Davi e todavia era antes dele, o Verbo de Deus, zombou e desprezou a lira e a cítara, aqueles instrumentos sem vida. Pelo poder do Espírito Santo, Ele dispôs em harmoniosa ordem este grande mundo e, sim, o pequeno mundo do homem também, corpo e alma juntos; e nestes instrumentos de muitas vozes do universo, Ele o Cristo faz música para Deus, e canta com o acompanhamento do instrumento humano, 'Porque vós sois minha harpa e meu órgão de flautas e meu templo.' isto é uma aplicação de 2Co 6.16?(Clemente de Alexandria)

CLEMENTE: "Deixai o órgão de flautas ou gaita para o pastor de cabras, a flauta para os homens que temem os deuses-demônios e se enfeitiçam usando-a na adoração dos seus ídolos. Tais instrumentos musicais têm que ser expulsos de nossas festas sem a suas asas, pois são mais adequados para os animais brutos e para aquela classe de homens que é menos capaz de raciocinar espiritualmente. O Espírito, para purificar a liturgia divina de qualquer tal celebração sem controles, canta no Salmo 150:a 'Louvai-O com o som da trombeta' --> porque, de fato, ao som da trombeta os mortos ressuscitarão;b 'Louvai-O com a harpa' --> porque, de fato, a língua é a harpa do Senhor;c 'e com o alaúde-saltério. Louvai-O' --> entendendo a boca como um alaúde-saltério movido pelo Espírito, tal como o alaúde-saltério é movido pelo plectro a palheta, de marfim ou de ouro;d 'louvai-O com o tamborim e coral que responde em eco' --> isto é, a Igreja esperando pela ressurreição do corpo na carne a pele, Igreja que é o coral, o corpo e eco de Cristo;e 'louvai-O com instrumentos de cordas e com órgão,' --> chamando nossos corpos um órgão e seus tendões cordas, porque deles o corpo deriva seu movimento coordenado e, quando tocado pelo Espírito, produz os maravilhosos, inigualáveis, inimitáveis e insuplantáveis tons humanos;f 'louvai-O com címbalos sonoros; louvai-O com címbalos altissonantes címbalos sonoros significam a língua da boca a qual, com os movimentos dos lábios címbalos altisonantes, canta as palavras. Então Ele convoca a toda a humanidade 'Tudo quanto tem fôlego louve ao Senhor', porque Ele reina sobre todo espírito que Ele tem feito. Na realidade, o homem é um instrumento de arco uma inigualável harpa para a paz, mas estes outros instrumentos, se alguém se focaliza demasiado neles, tornam-se instrumentos de conflito, para inflamar as paixões. Os Etruscos, por exemplo, usam a trombeta para guerra; os Arcadianos, a corneta; os Siquels, a flauta; os Cretenses, a lira; os Lacedonianos, o tubo de órgão ou gaita; os Trácios, o clarim; os Egípcios, o tambor; e os Árabes, o címbalo. Mas, quanto a nós, fazemos uso de somente um instrumento: somente a Palavra cantada de paz pela qual adoramos Deus, não mais com as anteriores harpa ou trombeta ou tambor ou flauta, as quais aqueles pagãos treinados para a guerra usam." (Clemente de Alexandria, 190AD, "The instructor, Fathers of the church", p. 130).

EUSÉBIO: (admirável historiador, chamado "O Pai da História da Igreja"): "Antigamente, no tempo em que aqueles da circuncisão estavam adorando com símbolos e tipos, não era inapropriado elevar hinos a Deus acompanhados com o saltério e a cítara, e fazê-lo nos dias de sábado... Hoje, porém nós os cristãos oferecemos nossos hinos com um saltério vivo e uma cítara viva, e com cânticos espirituais. As vozes dos cristãos, em uníssono, são mais aceitáveis a Deus do que qualquer instrumento musical. É de acordo com isto que, em TODAS as igrejas de Deus, unidas em alma e atitude, com um só pensar e em concordância de fé e piedade, nós enviamos ao céu uma melodia em uníssono, com as PALAVRAS dos Salmos sem instrumentos." (Eusébio, 260-340 DC).

AGOSTINHO: "... instrumentos musicais não eram usados. A gaita, o tamborim, e a harpa são aqui neste mundo tão intimamente associados com os sensuais cultos pagãos, como também com as orgias desenfreadas e com as performances imorais dos circos e teatros, que é fácil entender os justificados preconceitos contra o uso deles os instrumentos na adoração." (Agostinho 354 D.C., )

CRISÓSTOMO: "Davi antigamente cantava canções, hoje nós também cantamos hinos. Ele tinha uma lira com cordas sem vida, a igreja tem uma lira com cordas vivas. Nossas línguas são as cordas da lira, tendo um som realmente diferente mas muito mais de acordo com a devoção. Aqui não há necessidade de cítara, ou de cordas esticadas, ou de plectro palhetinha de ouro ou marfim, para tanger cordas, ou de arte, ou de nenhum instrumento; mas, se você quiser, você mesmo pode se tornar uma cítara, mortificando os membros da carne e fazendo uma completa harmonia entre a mente e o corpo. Porque, quando a carne não mais cobiça contra o Espírito, mas tem se submetido às suas ordens e tem sido profundamente levada no caminho melhor e mais admirável, então você criará uma melodia espiritual." (Crisóstomo, "Exposition of Psalms 41", escrito em 381-398 DC, Source Readings in Music History, ed. O. Strunk, W. W. Norton and Co.: New York, 1950, pg. 70. Crisóstomo viveu em 347-407 DC).

ANTIGOS ERUDITOS: Vejamos, agora, em ordem cronológica, uma amostra de 9 citações entre as muitas dúzias, talvez centenas, que temos disponíveis, dos mais respeitados eruditos e historiadores cristãos, sobre a música no culto a Deus.

AQUINAS: "Nossa igreja isto é, o cristianismo, da origem até este nosso século XIII de modo algum usa instrumentos musicais (tais como harpas e saltérios) para louvar a Deus, para que não pareça ou ocorra que ela judaízou-se." (Thomas Aquinas, 1225-1274 DC, Bingham's Antiquities, Vol. 3, pág. 137).

ERASMO: "Temos recentemente trazido para dentro das nossas igrejas certa música teatral e de ópera; um tal confuso e desordenado conflito de algumas palavras palavras lutando contra sons de instrumentos e contra palavras diferentes como eu dificilmente penso que existiu mesmo em qualquer dos teatros dos pagãos Gregos ou Romanos. As igrejas catedrais católicas estrondam com o barulho das trombetas, dos órgãos gaitas de fole NOTA 4 e dulcímeros; e as vozes humanas da congregação lutam para se fazer ouvir por debaixo deles. Os homens correm para as igrejas como se fossem para os teatros, para terem seus ouvidos excitados. E, com esta finalidade, fabricantes de órgãos são contratados com grandes salários, e muitos rapazes desperdiçam todo o seu tempo aprendendo estes tons zoantes." (Erasmo, 1466-1536 DC, Commentary on 1Co 14:19).

LUTERO: "O órgão (!) na adoração é a insígnia o emblema simbólico de Baal. ... Os Católicos Romanos o tomaram emprestado dos judeus." (Martinho Lutero, Mcclintock & Strong's Encyclopedia Volume VI, pajé 762).

CALVINO: "Instrumentos musicais celebrando os louvores a Deus seriam não mais adequados do que o queimar de incenso, o acender de candeeiros, e a restauração de outras sombras da Lei. Os Papistas, portanto, têm imbecilmente tomado isto emprestado, como também muitas outras coisas, dos judeus. Homens que são afeiçoados à pompa externa podem se deleitar naquela barulheira; mas a simplicidade que Deus nos recomenda pelos apóstolos é muito mais agradável a Ele. Paulo nos permite abençoar Deus na reunião pública dos santos, somente em uma língua conhecida (1Co 14:16). Que iremos então dizer do canto de coros que enche os ouvidos com nada mais que um som vazio vazio porque é atrapalhado pela zoeira dos instrumentos?" (João Calvino, Commentary on Psalms 33)

WESLEY: "Não tenho nenhuma objeção ao uso de instrumentos de música em nossa adoração, uma vez que eles não sejam vistos nem ouvidos." (João Wesley, fundador do Metodismo, citado em Adam Clarke's Commentary, Vol. 4, p. 685)

FULLER: "A história da igreja durante os três primeiros séculos fornece muitos exemplos de cristãos primitivos se enlevando em cantar, mas (que eu possa me lembrar) nenhuma menção é feita de instrumentos. (Se minha memória não me engana), este uso de instrumentos originou-se na Idade das Trevas, o apogeu do Papado, quando quase que toda outra superstição foi introduzida. Hoje, instrumentos são mais usados onde o menor dos respeitos é dado à simplicidade primitiva." (André Fuller, batista, "Complete works of Andre Fuller", Vol 3, P. 520, 1843).

SPURGEON: "Louvai ao Senhor com a harpa. Israel estava na escola primária e usava coisas infantis para ajudá-la a aprender; mas nestes dias quando Jesus nos dá sólido e maduro alimento espiritual, pode-se fazer melodia sem instrumentos mesmo os de corda e de sopro. Não temos necessidade deles. Eles impediriam ao invés de ajudar nosso louvor. Cantai a Ele. Esta é a mais doce e melhor música. Nenhum instrumento é como a voz humana." (Comentário sobre Salmo 42:4). "Davi parece ter tido uma recordação particularmente terna do cantar simples dos peregrinos, e seguramente esta é a mais deliciosa parte da adoração e que chega mais próximo da adoração no céu. Que degradação suplantar o cantar inteligível de toda a congregação pela beleza teatral de um quarteto não estamos certos se Spurgeon se refere a cantores ou rabecas, foles, e gaita de fole! Tanto podemos inutilmente orar mecanicamente como inutilmente louvar por maquinários instrumentos e equipamentos." (Charles H. Spurgeon, Commentary on Psalm 42. Spurgeon pregou para 20.000 pessoas cada domingo, por 20 anos, no Tabernáculo Batista Metropolitano, em Londres, antes do uso da eletricidade e microfones, e jamais foram instrumentos de música mecânicos usados nos cultos. Quando lhe perguntaram a razão, citou 1Co 14:15 "Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento" e então declarou: "Eu tão cedo oraria a Deus com maquinário quanto cantaria a Deus com maquinário."

FINNEY: "Os cristãos iniciais recusaram a ter nada a ver com instrumentos musicais, os quais sabiam que eles poderiam ter herdado do antigo mundo pagão." (Teodoro Finney, A History of Music, 1947, p. 43)

LANG: "Todas as nossas fontes livros lidam amplamente com a música vocal na igreja, mas se resguardam de mencionar quaisquer outras manifestações da arte musical na igreja. ... O desenvolvimento da música Ocidental foi decisivamente influenciado pela exclusão de instrumentos musicais da igreja cristã inicial." - Paul Henry Lang, Music In Western Civilization, pp. 53,54.

LEICHTENTRITT: "No entanto, na Igreja Cristã inicial, só o cantar era permitido, não o tocar de instrumentos." - Hugo, Music, History And Ideas, p. 34

NAUMAN: "Não pode haver nenhuma dúvida de que, originalmente, em todos os locais, a música do culto a Deus foi inteiramente de natureza vocal." - Emil Nauman, The History Of Music, Vol. 1, p. 177

RITTER: "Não temos conhecimento real do caráter exato da música que formava uma parte da devoção religiosa das primeiras congregações cristãs. No entanto, sabemos que ela foi puramente vocal." - Dr. Frederick Louis Ritter, History Of Music From The Christian Era To The Present Time, p. 28

COLEMAN: "Tanto os judeus nos seus cultos no templo, como os gregos em sua adoração aos ídolos, tinham o costume de cantar com o acompanhamento de instrumentos musicais. Os convertidos ao cristianismo têm que ter sido familiares com este modo de cantar ... Mas é geralmente admitido que os primeiros cristãos não empregavam nenhum instrumento musical nos seus cultos." -- Lyman Coleman (Presbiteriano), The Apostolic And Primitive Church, pp. 368-369.Talvez lhe pareça estranho que a música fosse inteiramente vocal na igreja inicial, quando instrumentos musicais eram tão comuns na adoração dos judeus e dos gentios. Mas não quando você relembrar que a adoração no Novo Testamento devia ser espiritual em sua ênfase.

ROMA: "... os primeiros crentes eram de uma fibra demasiadamente espiritual para substituírem a voz humana por instrumentos sem vida, ou mesmo para usar aqueles instrumentos como acompanhantes da voz humana." -- Catholic Encyclopedia

CAVARNOS: "Na igreja bizantina, a execução de música por instrumentos, ou mesmo o acompanhamento de cânticos sacros por instrumentos, era proibida pelos Pais os líderes religiosos do Oriente as regiões ao redor e incluíndo a Grécia, como sendo incompatíveis com o caráter espiritual, solene e puro da religião de Cristo." -- Constantine Cavarnos Grego Ortodoxo, Bysantine Sacred Music

CLARKE: "A música, como uma ciência, eu estimo e admiro: mas os instrumentos de música na casa de Deus, eu abomino e aborreço. Eles são o abusar da música o transgredir da música de louvor a Deus; e eu aqui registro meu protesto contra todas tais corruções na adoração do Autor do Cristianismo." ADAM CLARKE (comentarista Metodista).

Conclusão:Por que estes homens objetam tão fortemente contra instrumentos musicais na adoração da igreja? Porque têm compreendido, apropriadamente, que: 1. Tais instrumentos eram uma extrapolação indevida, pelos judaizantes da adoração judaica;2. Como tal, os usos de tais instrumentos, nos cultos estavam em desarmonia com a natureza ESPIRITUAL da adoração do NT; e3. Os usos de tais instrumentos, nos cultos se encaixavam bem na Lei Antiga com suas "sombras", não com a VERDADEIRA adoração do NT.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Por Que Ler os Puritanos Hoje?


Don Kistler

Acredito que existem várias razões para o ressurgimento do interesse pelos Puritanos e seus escritos. Uma delas é que as pessoas estão ficando cansadas de coisas que a religião promete, mas não pode dá-las. Todo tipo de promessas são feitas, mas as pessoas investigam a religião por causa do interesse próprio, e quando estas promessas não se tornam realidade elas ficam desapontadas. Creio que elas também estão cansadas da religião superficial e sem seriedade em sua base. Muitas pessoas não louvam a Deus, porque o deus do qual a maioria ouve falar realmente não é o "Senhor Deus onipotente que reina para sempre e eternamente". Ele é simplesmente "meu amigo", e esta familiaridade certa mente produz desrespeito!
Os puritanos foram homens apaixonadamente obcecados pelo conhecimento de Deus. Eu listei 10 razões do porquê devemos ler os puritanos hoje, e cada uma delas é derivada diretamente da visão Puritana de Deus e das Escrituras.
1) Eles elevarão o seu conceito de Deus a um nível que você jamais imaginou fosse possível, e lhes mostrarão um Deus que realmente é digno de seu louvor e adoração. Jeremiah Burroughs, em seu clássico livro Louvor Evangélico, disse: "A razão porque nós adoramos a Deus de uma maneira não séria, é porque não vemos a Deus em Sua glória". O homem moderno ouve falar de um Deus que não é digno de ser louvado. Por que ele deveria louvar a um Deus que quer fazer o bem, mas não pode ser bem sucedido porque o homem nÍ o coopera? Quem afinal é soberano? O homem o é!
Leia os puritanos e você se achará, num sentido espiritual, de alguma forma sozinho. Você se sentirá empolgado com aquilo que está lendo e com o que está sentindo em seu coração, e perceberá que não há muitas outras pessoas que entenderão daquilo que você está falando; esta pode ser uma solitária experiência! Quando você experimenta a visão que Isaías teve de Deus (Is. 6), e percebe que a realidade de Deus está infinitamente além de qualquer coisa que a sua mente possa compreender, você perceberá que o homem comum não pensa muito a respeito de Deus, muito menos no nível profundo que você está pensando.
Uma das razões de termos um pensamento tão pobre é porque lemos tão pouco. Ler ajuda-nos a pensar. Nós vivemos numa "cultura fotográfica" (visual) ao invés de uma cultura tipográfica (de letras). Tudo são fotos, vídeos e filmes. Todo trabalho está feito para nós e assim não precisamos lutar com conceitos. Outra pessoa interpreta as coisas para nós com imagens. Há 400 anos atrás, as palavras estavam congeladas, estáticas numa página e estas forçavam os leitores a trabalharem mentalmente com os pensamentos ali expressos.
2) Os Puritanos tinham um "caso de amor" com Cristo, e eles escreveram muito sobre a beleza de Jesus Cristo. Um dos maiores puritanos foi Thomas Goodwin, um Congregacional. Escrevendo sobre o céu, Goodwin disse: "Se tivesse que ir ao céu e descobrisse que Cristo não estava lá, eu sairia correndo imediatamente, pois o céu seria o inferno para mim sem Cristo". O céu sem Cristo não é o céu, e se Cristo não estiver lá, eu não tenho nenhum desejo de estar lá. Estes homens estavam apaixonados por Cristo.
James Durham escreveu na sua aplicação do sermão sobre Cantares de Salomão 5:16: "Se Cristo é amor como um todo, então todo o resto é repulsivo como um todo". Nós não nos sentimos assim em relação a Cristo, sentimo-nos? Queremos um pouquinho de Cristo, mas também um pouquinho de várias outras coisas. Mas o verdadeiro cristão quer Cristo e nada além de Cristo.
Samuel Rutherford escreveu o seguinte a respeito da beleza de Cristo:
Eu ouso dizer que escritos de anjos, línguas de anjos, e mais que isso, e tantos mundos de anjos como existem pingos de água em todos os mares e fontes e rios da terra não O poderiam mostrar-lhe. Eu acho que Sua doçura inchou dentro em mim até a grandeza de dois céus
Ah! Quem dera uma alma tão extensa, como se estendesse até a linha final dos mais altos céus para conter o Seu amor. E ainda assim eu poderia conter só um pouquinho deste amor. Oh! que visão, de estar no céu, naquele lindo jardim do Novo Paraíso, e assim ver, sentir o cheiro, tocar e beijar aquela linda flor-do-campo, a árvore sempre verde da vida! A sua sombra seria o suficiente para mim; uma visão dEle seria a garantia do céu para mim.
Se existissem dez mil milhões de mundos, e tantos céus cheios de homens e anjos, Cristo não seria importunado para suprir todos os nossos desejos, e nos preencher a todos. Cristo é uma fonte de vida; mas quem é que sabe qual a sua profundidade até o ponto mais fundo? Coloque a beleza de dez mil mundos de paraísos, como o jardim do Éden em um; coloque todas as árvores, todas as flores, todos os odores, todas as cores, todos os sabores, todas as alegrias, todos os amores, toda doçura em um só.
Oh! Que coisa linda e excelente isso seria? E ainda assim seria menos para o lindo e querido bem-amado Cristo do que uma gota de chuva em todos os oceanos, rios, lagos e fontes de dez mil mundos.
Isto é alguém que ama a Cristo, não é?
3) Os Puritanos nos ajudarão a entender a suficiência de Cristo. Isto sofre grandes ataques em nossa igreja moderna. Você pode ter Cristo para salvá-lo, mas hoje em dia você precisa da psicologia para ajudá-lo no curso de sua vida. Pode ter Cristo para salvá-lo e ajudá-lo com seus sofrimentos espirituais, mas você precisa de algo mais para estas dores emocionais profundas que sente.
Existe um livro escrito por Ralph Robinson — contemporâneo de Thomas Watson em Londres — "Cristo: Tudo e Em Tudo". Robinson escreveu mais de 700 páginas sobre um versículo de Colossenses, "... porém Cristo é tudo e em todos" (Cl 3:11). Você percebe que a questão é a nossa deficiência em entender a suficiência de Cristo. Se Cristo é tudo em tudo, como podemos olhar para qualquer outro, ou para qualquer outra coisa em busca de respostas?
No seu livro "O Tesouro dos Santos", Jeremiah Burroughs tem um sermão sobre o versículo de Colossenses. Burroughs faz uma afirmação como segue: "Certamente Cristo é um objeto suficiente para a satisfação do Pai". Nenhum de nós argumentaria contra isso, não é mesmo? Isaías nos diz que Deus verá o "fruto do penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito". Assim, Cristo é suficiente para satisfazer a Deus. Burroughs continua: "Certamente, então, Cristo é suficiente para satisfazer qualquer alma!" Você compreende o raciocínio? Coit ado daqueles cristãos que gastam suas vidas inteiras se queixando acerca de seu destino na vida, como se Cristo não fosse suficiente. Que blasfêmia é dizer que Cristo é suficiente para satisfazer a Deus, mas não é suficiente para satisfazer a mim! Muito antes de existir um Freud, um Puritano solucionou o problema da "balela da psicologia" que tanto tem fascinado e agradado a igreja hoje.
4) Os Puritanos nos ajudam a ver a suficiência das Escrituras para a vida e a piedade. Isto é o que Pedro disse (2 Pe 1:3-4). As Escrituras nos dão o conhecimento de Deus, o qual nos dá todas as coisas pertinentes à vida e à piedade. O grito de guerra da humanidade hoje é mais ou menos assim: "Estou buscando a auto-estima", ou "Quero apenas estar de bem comigo mesmo".
Os cristãos não carecem de auto-estima; eles carecem de dispensar estima a Cristo! Isaías descobriu quem Deus era e daí ele soube quem de fato Isaías era. Eu me lembro de ter sido convidado para falar numa palestra em outro continente, e pediram-me para falar de mim. Não posso imaginar nada mais constrangedor do que as pessoas ficarem sabendo algo a meu respeito. No livro"Tesouro dos Santos" de Burroughs, seu primeiro sermão é intitulado "A Incomparável Excelência e Santidade de Deus" e é baseado num versículo do Velho Testamento "Quem é como Tu, oh Deu s, entre as nações?". É um sermão de 35 páginas, e Burroughs fala do esplendor de Deus em metade do sermão. Daí ele escreve sobre a segunda metade do versículo "e quem é como Tu, oh Israel?". Qual é o ponto em questão? Sendo que não há ninguém comparável ao Seu Deus, não há ninguém como você! Assim, você não precisa de auto-estima para sentir-se bem consigo mesmo; você precisa ter "Cristo-estima"; você precisa sentir-se bem com Deus.
Se o homem é criado à imagem e semelhança de Deus, como poderia alguém ter falta de auto-estima? Cristo deu Sua vida, pagando um alto preço por Sua Igreja. Isso é verdadeiramente digno, meus amigos!
5) Os Puritanos podem ensinar-nos sobre a extrema maldade da natureza do pecado. Edward Reynolds escreveu um livro intitulado "A Pecaminosidade do Pecado", e Jeremiah Burroughs escreveu "O Mal dos Males". Não há outra doutrina que importe sermos mais ortodoxos do que nesta. Porque se você está fora da doutrina do pecado, você está fora de toda doutrina. Este é o fio da meada que vai abrir todo o invólucro.
Burroughs escreveu 67 capítulos sobre esta premissa: O pecado é pior que o sofrimento; as pessoas farão tudo que puderem para evitar o sofrimento, mas farão quase nada para evitar o pecado. O pecado é pior que o sofrimento, isso, no entanto, é porque o pecado causa o sofrimento. De fato Burroughs vai ao ponto. O pecado é pior que o inferno, porque o pecado causou o inferno. E a causa é pior que a conseqüência da causa.
Obadiah Sedgwick, um presbiteriano Londrino proeminente e que era um membro da Assembléia de Westminster, escreveu um livro perscrutador "A Anatomia dos Pecados Ocultos" — um tratado sobre o clamor de Davi pedindo para ser liberto de pecados ocultos; aqueles pecados escondidos nos recessos mais íntimos de nossos corações. Aqueles pecados que não são conhecidos de mais ninguém, só por nós e Deus, pecados que são tão maus e condenados como quaisquer outros.
Jonathan Edwards disse o seguinte acerca do pecado: "Todo pecado é de proporção infinita, e é mais ou menos mau dependendo da honra da pessoa ofendida. Já que Deus é infinitamente santo, o pecado é infinitamente mau". É por isso que não existe esse negócio de pecado pequeno (pecadinho), porque o mais leve pecado é um ato de traição cósmica cometida contra um Deus infinitamente santo.
Simplesmente por seu enorme valor literário, este material não tem preço. As imagens de Edwards em seu sermão"Pecadores nas Mãos de um Deus Irado" são imbatíveis. Ele compara Deus com um arqueiro e seu arco em mãos; aquele arco está retesado e a flecha está diretamente apontada para o coração do homem; os braços do arqueiro estão trêmulos de tão firme que o arco está ao ser puxado. E Edwards diz que a única coisa que impede Deus de deixar aquela flecha voar e penetrar no sangue do pecador é o beneplácito de um Deus que está infinitamente irado com o pecado a cada dia. Um escritor secular que estava fazendo uma obra sobre Jonathan Edward s foi perguntado por um cristão: "Você sabe, se Edwards tiver razão então aquela flecha está apontada para o seu coração. Como você pode dormir à noite?". A resposta foi a seguinte: "Às vezes eu não durmo! Só espero em Deus que Jonathan esteja errado".
6) Os puritanos nos ajudarão na vida prática. O livro de Richard Baxter, "O Diretório Cristão", tem sido chamado de "o maior manual de aconselhamento cristão jamais produzido". Antes do presente século todo aconselhamento era feito do púlpito ou durante uma visita pastoral à família para catequizá-la. Os pastores eram vistos como os médicos da alma. É interessante notar que a palavra "psicologia" significa o estudo da alma. Suke, de onde temos "psyche" e de onde vem "psicologia" quer dizer "alma". Só que hoje em dia o que costumava ser a cura de almas pecaminosas, passou a ser a cura de mentes doentes (pecado virou doença). Esta tarefa foi tirada do pastor, o qual conhece a alma melhor que qualquer outro, e foi dada a conselheiros (psicólogos) dentre os quais, muitos nem mesmo crêem em Deus. Eles não podem curar males espirituais. O "Diretório" de Baxter mostra o gênio de um homem, que pôde aplicar as Escrituras em todas as áreas da vida. O Dr. James Packer chama este livro de o maior livro cristão já escrito.
O livro "A Prática da Piedade" de Lewis Bayly é um modelo de manual devocional Puritano. A idéia era a de regular o dia inteiro de um indivíduo pelas Escrituras. O Dr. John Gerstner diz que este livro deu início ao movimento Puritano.
Não havia nenhuma área da vida, criam os puritanos, que não devesse ser regulada pelas Escrituras. Mesmo o tempo a sós deveria ser posto à disposição do uso da piedade. Nathanael Ranew escreveu uma refinada obra — intitulada "Solidão Aperfeiçoada pela Meditação Divina". Esta é uma obra puritana clássica sobre meditação espiritual. A premissa de Ranew é que, mesmo quando o cristão está só ele pode "melhorar-se" a si mesmo usando sua mente para o bem, meditando em Deus e em Seus atributos. Se existisse um 11º mandamento, este seria: "Não deveis desperdiçar tempo".
Os Puritanos escreveram vários destes "manuais". John Preston pregou cinco sermões em I Tessalonicenses 5:17 sobre a oração, entitulados "O exercício diário dos Santos", os quais estão incluídos no "Os Puritanos e a Oração".
R.C. Sproul escreveu o prefácio do livro de Jeremiah Burroughs "Tratado sobre Mentalidade Terrena". Eis aí um livro sobre o grande pecado de pensar como o mundo pensa, ao invés de pensar os pensamentos de Deus e segundo Deus.
Os Puritanos tinham característica pastoral forte, além de serem muito teológicos. Christopher Love — sobre quem eu escrevi um livro "Um Espetáculo para Deus" — disse o seguinte, em seu terceiro volume sobre sermões de crescimento na graça:
Não olhe demais para os seus pecados, mas olhe também para a sua graça ainda que fraca. Cristãos fracos olham mais para os seus pecados do que para suas graças recebidas; Deus olha para suas graças e não atenta tanto para seus pecados e fraquezas. O Espírito Santo disse: "Ouvistes da paciência de Jó"; mas Deus leva em conta não o que existe de mau em seu povo, mas o que é bom nele. É mencionado o fato que Raabe escondeu os espias, mas nada é mencionado a respeito da mentira que ela contou. Aquilo que foi bem feito foi mencionado como louvável sobre Raabe. Já o que foi inapropriado está sepultado em silêncio, ou pelo menos não está registrado contra ela e nem como acusação contra ela . Aquele que desenhou o quadro de Alexandre com sua cicatriz na face, desenhou-o com seu dedo sobre a cicatriz. Deus coloca o Seu dedo de misericórdia sobre as cicatrizes de nossos pecados. Oh, como é bom servir um Senhor assim, que é pronto a recompensar o bem que fazemos e ao mesmo tempo está pronto a perdoar e esquecer o que é inapropriado. Por isso, vocês que têm só um pouco de graça, lembrem-se que ainda assim Deus terá os Seus olhos sobre esta pequena graça. Ele não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega. (Is 42:3)
7) Os Puritanos nos ajudarão no evangelismo que é bíblico. Grande parte do evangelismo feito hoje é centrado no homem, mas o evangelismo Puritano era centrado em Deus. Os puritanos tinham outra doutrina, que se tem perdido hoje em dia e tem o nome de "buscar" ou "preparação para a salvação". Era uma doutrina amplamente difundida entre os Puritanos ingleses e os reformadores. Foi ensinada por Jonathan Edwards em seu sermão "Forçando a entrada no Reino", e antes disso foi ensinada por seu avô Solomon Stoddard. Stoddard escreveu "Um Guia para Cristo", q ue John Gerstner chama de o mais refinado manual sobre evangelismo reformado que ele conhece. Além deste, você poderia querer ler "O Céu tomado por violência" de Thomas Watson.
A doutrina da busca nos ensina que Deus trabalha através de meios, e se um homem deseja ser salvo ele deve se apropriar destes meios. Deixe-me dar-lhe um exemplo. A fé vem pelo ouvir, e os homens são salvos pela fé, ou melhor, os homens são salvos pela graça através da fé. Mas se preciso de fé para agradar a Deus e eu percebo que não tenho fé para crer em Deus para a salvação, o que eu deveria fazer?
E é aqui que entra o "buscar". Se a fé vem pelo ouvir, então eu devo ouvir alguém pregar um sermão ortodoxo sobre Cristo. Se Deus vai me salvar, seu meio normal será através da pregação do evangelho. Deus não tem obrigação de me salvar se eu escuto um sermão, mas Ele provavelmente não me salvará sem que eu escute um sermão sobre a graça de Deus.
O pecador, então, deve fazer todo o possível dentro de seu poder natural para amolecer o seu coração. Ele não pode merecer a salvação, mas pelo menos ele pode "cooperar" com Deus em sua salvação ao invés de opor-se a Ele. Eu não me torno agradável a Deus por estar buscando — desde que o esteja fazendo sem interesse próprio — mas eu estou sendo menos ofensivo a Deus ao invés de mais ofensivo; e mesmo se Deus não me salvar, a minha punição no inferno será menor. E os Puritanos diriam: "Se você não pode ir a Deus com um coração reto, então vá a Ele procurando por um coração reto". Busque ao Senhor.
8) Ler os Puritanos nos ajudará a ter prioridades certas. Segundo Coríntios 5:9 diz: "É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe ser agradáveis". Um puritano falou da seguinte maneira: "O sorriso de Deus é minha maior recompensa; Sua expressão de desaprovação é meu maior temor". Se é verdade que nós nos tornamos como as pessoas com as quais gastamos o nosso tempo, então é um investimento para a eternidade gastarmos tempo com os puritanos. Então, gaste o seu tempo com o melh or! O livro "Temor Evangélico" de Jeremiah Burroughs é sobre termos a prioridade correta. Trata-se de sete sermões sobre Isaías 66:2, sobre o que significa tremer da Palavra de Deus. Se Deus fala "É para este que olharei,..., e que treme da minha Palavra", então seria sábio sabermos o que é tremer da Palavra de Deus.
9) Os Puritanos podem nos ajudar a esclarecer a questão de como um homem é justificado diante de Deus. Outro título do Solomon Stoddard é sua obra prima sobre justiça imputada: "A Segurança da Apresentação, no Dia do Juízo, na Justiça de Cristo". Não tenho como não enfatizar extremamente a importância de ser são e sóbrio sobre esta questão de justiça imputada nestes dias onde tantos não estão sendo sóbrios e claros na eterna diferença entre justiça imputada ou atribuída e justiça infundida. A diferença entre estas duas posições não é só a dist ância entre Roma e Genebra; mas é também a distância entre o céu e o inferno. Eu recomendo para as suas leituras sobre este assunto, o livro "Justificação Somente Pela Fé". Se você quer especificamente um livro puritano sobre esta questão, então leia "Os Puritanos e a Conversão", ou leia o livro de Matthew Mead, "O Quase Cristão Descoberto". Mead lista vinte e seis coisas que uma pessoa deve fazer como cristã. Fazendo estas coisas não prova que ela realmente seja cristã, no entanto não fazê-las prova que ela não é cristã. Não é para a fraqueza do coração. Esta era a versão do século 17 de "O Evangelho Segundo Jesus", 300 anos antes de John MacArthur ter escrito aquela obra preciosa.
10) Finalmente, olhemos para os Puritanos e a Autoridade da Palavra. Sabemos que as Escrituras são Deus falando conosco. O versículo clássico de Timóteo nos diz que "Toda Escritura é inspirada por Deus" (literalmente soprada por Deus). E sabemos que seja o que for que Deus diga, nós devemos obedecer. De fato foi isto que o povo de Deus do Velho Testamento percebeu. Em Êxodo 24:7 eles declaram: "Tudo que o Senhor falou nós faremos, e seremos obedientes". Não há nada que o Senhor diga que nós não devamos fazer; e se não o fazemos nós não somos cristãos! A coisa é simples assim!
Um puritano que era membro da Assembléia de Westminster em 1643 escreveu: "A autoridade da Escritura Sagrada, por causa da qual se deve crer e obedecer, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja; mas depende totalmente de Deus (que é a própria Verdade) o autor da mesma. E por isso ela deve ser recebida, porque é a Palavra de Deus".
Sabemos que quando Deus fala nós devemos ouvir. De fato, grande parte da Grande Comissão é ensinar às pessoas a se submeterem à autoridade da Palavra de Deus "ensinando-os a observar tudo que vos tenho ordenado" (Mt 28:20).
Isto é o que surpreendia as pessoas quando Jesus ensinava. Mateus 7:29 diz que quando Jesus ensinava, as pessoas ficavam maravilhadas. Qual era a base para a admiração delas? "Ele estava ensinando-as como quem tem autoridade, e não como os escribas".
É exatamente assim que os pregadores devem pregar: com autoridade. É um mandamento de Deus que eles assim o façam. "Falai estas coisas, exortai e reprovai com toda autoridade. Não deixe que ninguém te despreze" Tito 2:15. Enquanto afirmamos que se Deus dissesse alguma coisa nós o obedeceríamos, nós nos esquecemos que o ministro fiel é Deus falando a nós hoje. É a visão da Reforma do ministério do púlpito: quando um ministro fiel está expondo a Palavra de Deus, é a voz de Deus que você está ouvindo e não a de um homem. E isto quer dizer que deve ser obedecida.
Mas o que você escuta após o sermão? O melhor que você ouvirá é "Isto é interessante, terei que pensar sobre isto". Mas Deus nunca nos deu Sua Palavra para ter nossa opinião ou para pensarmos sobre o assunto. Ele nos deu Sua Palavra para que a obedeçamos. O Puritano Thomas Taylor escreveu:
A Palavra de Deus deve ser pregada de tal maneira, que a majestade e a autoridade dela sejam preservadas. Os embaixadores de Cristo devem falar Sua mensagem como se Ele literalmente o fizesse. Um ministro lisonjeador é um inimigo desta autoridade, pois se um ministro deve contar "placebos" e canções doces é impossível que ele não venha trair a Verdade. Resistir esta autoridade ou enfraquecê-la é um pecado temível, seja em homens de alta ou baixa posição. E o Senhor não permitirá que seus mensageiros sejam interrompidos. Os ouvintes devem: a) orar por seus mestres, para que possam transmitir a Palavra com autoridade, com poder e claramente; b) não confundir esta autoridade nos ministros como rudeza ou antipatia, e muito menos como loucura; c) não recusar a sujeição a esta autoridade, nem ficar ofendidos quando ela sobrepuja uma prática onde eles estão relutantes em largar; pois é justo para com Deus apagar a luz daqueles que recusam a luz oferecida.
Deuteronômio 30:20 equipara um Deus de amor com obediência à Sua voz, e diz que é assim que amamos.
Bem, era assim que os puritanos viam as Escrituras. Sua elevada visão de Deus veio de sua elevada visão das Escrituras. E se nós quisermos conhecer a Deus como eles, nós devemos amar Sua Palavra como eles amaram. E este amor aumentará somente através de estudo intenso e diligente. E ler os puritanos é a próxima boa coisa. É como ir a escola com as mentes mais brilhantes que a igreja já teve.
Onde você deveria começar? Recomendo ao iniciante os seguintes títulos:
O Amor Verdadeiro do Cristão ao Cristo Invisível, de Thomas Vincent.
A Maldade do Pecado ou O Dever da Auto Negação, Thomas Watson.
Amostras de Thomas Watson, um pequeno livro de dizeres coletados.
A Graça da Lei, Ernest Kevan; um bom livro sobre o papel da lei na teologia puritana.
Os Puritanos e a Conversão, Os Puritanos e a Oração. Dois excelentes compêndios que dão ao leitor o melhor do pensamento puritano sobre os respectivos temas.

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Traduzido pelo ministério "Os Puritanos" e publicado na revista "Os Puritanos" em 1995.

Como Ensinar e Pregar o Calvinismo

John Piper

1. Seja rigorosamente textual em todas suas exposições e explanações e defesas dos ensinos Calvinistas. Torne-o todas às vezes um assunto textual, não um assunto lógico ou de experiência.

2. Não seja estridente, mas gentil. Assuma que trabalhar estes grandes assuntos até à convicção pode levar anos e que estar no processo é um bom começo.

3. Fale de seu próprio quebrantamento com respeito à estas coisas e como elas são preciosas para você e porque e como elas ministram à sua alma e ajudam você a viver sua vida.

4. Faça de Spurgeon e Whitefield seus modelos antes do que Owen ou Calvino, porque os primeiros foram evangelistas e ganharam muitas pessoas para Cristo de um modo que está mais próximo de nossos dias.

5. Seja um evangelista e um mobilizador de missões de forma que as críticas de que o Calvinismo entorpece uma paixão pelos perdidos sejam postas em silêncio.

6. Trabalhe os cinco pontos a partir do "I" no TULIP e não do "U". Isto é, mostre ao povo que eles não querem realmente tomar o crédito final pela sua vinda a Cristo. Eles não querem estar diante de Deus no dia do julgamento e responder à questão, "Porque você creu e outros com suas oportunidades não?” Com a resposta, "Bem, eu suponho que eu era mais esperto, ou mais espiritual". Eles querem dizer, "Pela graça eu fui trazido à fé". Que é a "graça irresistível". Isto é, graça que triunfa sobre toda resistência até o fim.

7. Regozije-se por causa das críticas. Aquele que conhece e descansa na soberana graça de Deus deve ser o santo mais feliz. Não seja um anunciador amargo, melancólico, hostil ou falso para a glória da graça de Deus. Louve-a. Regozije-se nela. E não deixe que se torne um espetáculo. Faça isto no seu quarto secreto até que isto seja derramado sobre o púlpito e áreas públicas.

8. Não cavalgue sobre o que não está no texto. Pregue exegeticamente, explanando e aplicando o que está no texto. Se isto soar Arminianismo, que soe Arminianismo. Confie no texto e o povo confiará em você por ser fiel ao texto.

9. Evite jargões teológicos que não estejam no texto. A palavra "Calvinismo" provavelmente não é de grande auxílio. "Doutrinas da graça" pode não ser também. Simplesmente se prenda com o que está no texto, ou sugira algumas novas frases impressionantes que farão com que os povos fiquem maravilhados e sejam excitados.

10. Conte histórias e experiências biográficas e das vidas de santos vivos que ilustrem a dependência deles da soberania de Deus. Especialmente histórias relacionadas às missões e evangelismo e santidade de vida.

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Traduzido por Felipe Sabino de Araújo Neto

O Renascimento da Fé Reformada no Século XX

Gilson Santos

Dr. Iain Murray, no seu livro "The Puritan Hope" (A Esperança Puritana), relembra que o funeral de C. H. Spurgeon (1834-1892), em fevereiro de 1892, foi concebido por muitos como a conclusão da influência Puritana. Não obstante, no século XX, no período do pós-guerra, a tendência começou a reverter-se. "Desde 1957 tem ocorrido um reavivamento teológico reformado, o qual tem suas raízes nos livros dos puritanos", destaca Erroll Hulse em seu livro "Quem Foram os Puritanos?". E tanto Murray quanto Hulse ressaltam a importância do ministério de D. Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) neste "renascimento da fé reformada".

Em 1950 teve início um pequeno grupo de estudos. Esse ficou conhecido como a Conferência Puritana e reunia-se numa sala nas dependências da Capela de Westminster (Westminster Chapel), em Londres. Em 1959, esse encontro anual havia crescido para uma conferência de dois dias e contava com cerca de 400 participantes. Dr. James I. Packer e Dr. Martyn Lloyd-Jones eram os organizadores. Mais tarde este evento tomou o nome de A Conferência de Westminster. Muitos jovens estudantes e ministros, das mais diferentes denominações evangélicas, tiveram suas vidas profundamente tocadas pela instrumentalidade do ministério de Lloyd-Jones na Capela de Westminster. Entre estes jovens estudantes, se encontravam futuros missionários no Brasil.

Foi muito importante a relação de Dr. Lloyd-Jones com a editora Banner of Truth (Bandeira da Verdade), tendo dado todo o seu apoio desde o princípio, principalmente devido às publicações da obra dos puritanos. A Editora Britânica The Banner of Truth Trust teve início em 1957 em Londres. Os fundadores – destacando-se Dr. Iain Murray, ovelha e também auxiliar de Lloyd-Jones - criam "que muito da melhor literatura do Cristianismo histórico tinha caído em esquecimento", e que sua publicação poderia ser uma força para um verdadeiro reavivamento na Igreja atual. Realmente, tanto pelas publicações (livros e revista), quanto pelas conferências (que logo foram também promovidas nos Estados Unidos) a editora Banner of Truth pode ser identificada como uma das fortes influências neste moderno renascimento da fé reformada. Aliás, é manifesta a influência de Banner of Truth sobre os fundadores da Editora FIEL e da Editora PES, aqui no Brasil.

Samuel Waldron, no livro "Baptist Roots in America" (Raízes Batistas nos Estados Unidos) aponta outra grande influência, especialmente para os norte-americanos: o Seminário Presbiteriano de Westminster. Waldron descreve o Westminster Seminary como o “ressurgimento" do velho Princeton, “tomando a herança bíblica e reformada de seu decaído predecessor”. O Seminário de Princeton foi fundado em 1812, e entre seus renomados professores estiveram Archibald Alexander, Charles Hodge, A. A. Hodge e Benjamin B. Warfield. Nas décadas de 1920 e 1930, a principal denominação presbiteriana da época (PCUSA) foi abalada pela controvérsia modernista-fundamentalista. J. Gresham Machen (1881-1937), o líder dos conservadores, publica o importante livro "Cristianismo e Liberalismo" (1923), um clássico sobre o assunto. Machen e outros importantes professores conservadores deixam o Seminário Presbiteriano de Princeton, que fica nas mãos dos liberais, e fundam o Seminário de Westminster em 1929. Posteriormente, o Seminário de Westminster abre novos campus, inclusive o da Costa Oeste norte-americana. Numa época em que muitos seminários, inclusive importantes escolas teológicas batistas, rumavam em direção à secularização dos seus currículos, e se “encantavam com o canto” de docentes e acadêmicos liberais e neo-ortodoxos, o Seminário de Westminster constituiu-se numa indelével influência saneadora.

Samuel Waldron estabelece, assim, o importante papel do Seminário de Westminster para o atual movimento de reforma entre os batistas, lembrando que "muitos estudantes batistas que freqüentaram o Seminário vieram a ter contato com sua herança Reformada", e muitos jovens ministros, ainda que não tenham estudado ali, foram profundamente marcados por seus padrões teológicos e pelas obras de seus docentes. Entre estes jovens pastores batistas norte-americanos, influenciados pelo Seminário de Westminster, podemos citar, como exemplo, o pastor Walter Chantry, que na década de 1960 assumiu uma igreja batista no estado da Pensilvânia. Esta pequena igreja disseminou a fé reformada entre muitas outras, e experimentou a graça de Deus em seu crescimento e na expansão de sua obra missionária. A organização The Association of Reformed Baptist Churches of America - ARBCA (Associação de Igrejas Batistas Reformadas nos Estados Unidos), que teve inclusive a grande influência de Chantry e sua igreja no processo de organização, mantém desde 1997 um Departamento Batista no Seminário de Westminster da Califórnia. Trata-se do The Institute of Reformed Baptist Studies cujo deão acadêmico é o Dr. James M. Reninhan.

Assim, o ministério de Dr. Lloyd-Jones, no período do pós-guerra; o amplo ministério de The Banner of Truth especialmente nos países de Língua Inglesa (conferências, revista e livros); e o grande impacto da influência teológica reformada, bem como do modelo acadêmico proporcionado pelo Seminário Westminster, são três fatores que contribuíram significativamente para os rumos da Igreja no Século XX, e que também se fazem sentir no Brasil. No que diz respeito a nós, batistas, estas influências são sentidas crescentemente hoje em todo o mundo.