Este blog é para você que é um Batista Reformado, e que entende que a Confissão de Fé Londrina de 1689 é como "espinha dorsal" no entendimento das doutrinas bíblicas.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Por Que Ler os Puritanos Hoje?


Don Kistler

Acredito que existem várias razões para o ressurgimento do interesse pelos Puritanos e seus escritos. Uma delas é que as pessoas estão ficando cansadas de coisas que a religião promete, mas não pode dá-las. Todo tipo de promessas são feitas, mas as pessoas investigam a religião por causa do interesse próprio, e quando estas promessas não se tornam realidade elas ficam desapontadas. Creio que elas também estão cansadas da religião superficial e sem seriedade em sua base. Muitas pessoas não louvam a Deus, porque o deus do qual a maioria ouve falar realmente não é o "Senhor Deus onipotente que reina para sempre e eternamente". Ele é simplesmente "meu amigo", e esta familiaridade certa mente produz desrespeito!
Os puritanos foram homens apaixonadamente obcecados pelo conhecimento de Deus. Eu listei 10 razões do porquê devemos ler os puritanos hoje, e cada uma delas é derivada diretamente da visão Puritana de Deus e das Escrituras.
1) Eles elevarão o seu conceito de Deus a um nível que você jamais imaginou fosse possível, e lhes mostrarão um Deus que realmente é digno de seu louvor e adoração. Jeremiah Burroughs, em seu clássico livro Louvor Evangélico, disse: "A razão porque nós adoramos a Deus de uma maneira não séria, é porque não vemos a Deus em Sua glória". O homem moderno ouve falar de um Deus que não é digno de ser louvado. Por que ele deveria louvar a um Deus que quer fazer o bem, mas não pode ser bem sucedido porque o homem nÍ o coopera? Quem afinal é soberano? O homem o é!
Leia os puritanos e você se achará, num sentido espiritual, de alguma forma sozinho. Você se sentirá empolgado com aquilo que está lendo e com o que está sentindo em seu coração, e perceberá que não há muitas outras pessoas que entenderão daquilo que você está falando; esta pode ser uma solitária experiência! Quando você experimenta a visão que Isaías teve de Deus (Is. 6), e percebe que a realidade de Deus está infinitamente além de qualquer coisa que a sua mente possa compreender, você perceberá que o homem comum não pensa muito a respeito de Deus, muito menos no nível profundo que você está pensando.
Uma das razões de termos um pensamento tão pobre é porque lemos tão pouco. Ler ajuda-nos a pensar. Nós vivemos numa "cultura fotográfica" (visual) ao invés de uma cultura tipográfica (de letras). Tudo são fotos, vídeos e filmes. Todo trabalho está feito para nós e assim não precisamos lutar com conceitos. Outra pessoa interpreta as coisas para nós com imagens. Há 400 anos atrás, as palavras estavam congeladas, estáticas numa página e estas forçavam os leitores a trabalharem mentalmente com os pensamentos ali expressos.
2) Os Puritanos tinham um "caso de amor" com Cristo, e eles escreveram muito sobre a beleza de Jesus Cristo. Um dos maiores puritanos foi Thomas Goodwin, um Congregacional. Escrevendo sobre o céu, Goodwin disse: "Se tivesse que ir ao céu e descobrisse que Cristo não estava lá, eu sairia correndo imediatamente, pois o céu seria o inferno para mim sem Cristo". O céu sem Cristo não é o céu, e se Cristo não estiver lá, eu não tenho nenhum desejo de estar lá. Estes homens estavam apaixonados por Cristo.
James Durham escreveu na sua aplicação do sermão sobre Cantares de Salomão 5:16: "Se Cristo é amor como um todo, então todo o resto é repulsivo como um todo". Nós não nos sentimos assim em relação a Cristo, sentimo-nos? Queremos um pouquinho de Cristo, mas também um pouquinho de várias outras coisas. Mas o verdadeiro cristão quer Cristo e nada além de Cristo.
Samuel Rutherford escreveu o seguinte a respeito da beleza de Cristo:
Eu ouso dizer que escritos de anjos, línguas de anjos, e mais que isso, e tantos mundos de anjos como existem pingos de água em todos os mares e fontes e rios da terra não O poderiam mostrar-lhe. Eu acho que Sua doçura inchou dentro em mim até a grandeza de dois céus
Ah! Quem dera uma alma tão extensa, como se estendesse até a linha final dos mais altos céus para conter o Seu amor. E ainda assim eu poderia conter só um pouquinho deste amor. Oh! que visão, de estar no céu, naquele lindo jardim do Novo Paraíso, e assim ver, sentir o cheiro, tocar e beijar aquela linda flor-do-campo, a árvore sempre verde da vida! A sua sombra seria o suficiente para mim; uma visão dEle seria a garantia do céu para mim.
Se existissem dez mil milhões de mundos, e tantos céus cheios de homens e anjos, Cristo não seria importunado para suprir todos os nossos desejos, e nos preencher a todos. Cristo é uma fonte de vida; mas quem é que sabe qual a sua profundidade até o ponto mais fundo? Coloque a beleza de dez mil mundos de paraísos, como o jardim do Éden em um; coloque todas as árvores, todas as flores, todos os odores, todas as cores, todos os sabores, todas as alegrias, todos os amores, toda doçura em um só.
Oh! Que coisa linda e excelente isso seria? E ainda assim seria menos para o lindo e querido bem-amado Cristo do que uma gota de chuva em todos os oceanos, rios, lagos e fontes de dez mil mundos.
Isto é alguém que ama a Cristo, não é?
3) Os Puritanos nos ajudarão a entender a suficiência de Cristo. Isto sofre grandes ataques em nossa igreja moderna. Você pode ter Cristo para salvá-lo, mas hoje em dia você precisa da psicologia para ajudá-lo no curso de sua vida. Pode ter Cristo para salvá-lo e ajudá-lo com seus sofrimentos espirituais, mas você precisa de algo mais para estas dores emocionais profundas que sente.
Existe um livro escrito por Ralph Robinson — contemporâneo de Thomas Watson em Londres — "Cristo: Tudo e Em Tudo". Robinson escreveu mais de 700 páginas sobre um versículo de Colossenses, "... porém Cristo é tudo e em todos" (Cl 3:11). Você percebe que a questão é a nossa deficiência em entender a suficiência de Cristo. Se Cristo é tudo em tudo, como podemos olhar para qualquer outro, ou para qualquer outra coisa em busca de respostas?
No seu livro "O Tesouro dos Santos", Jeremiah Burroughs tem um sermão sobre o versículo de Colossenses. Burroughs faz uma afirmação como segue: "Certamente Cristo é um objeto suficiente para a satisfação do Pai". Nenhum de nós argumentaria contra isso, não é mesmo? Isaías nos diz que Deus verá o "fruto do penoso trabalho de sua alma, e ficará satisfeito". Assim, Cristo é suficiente para satisfazer a Deus. Burroughs continua: "Certamente, então, Cristo é suficiente para satisfazer qualquer alma!" Você compreende o raciocínio? Coit ado daqueles cristãos que gastam suas vidas inteiras se queixando acerca de seu destino na vida, como se Cristo não fosse suficiente. Que blasfêmia é dizer que Cristo é suficiente para satisfazer a Deus, mas não é suficiente para satisfazer a mim! Muito antes de existir um Freud, um Puritano solucionou o problema da "balela da psicologia" que tanto tem fascinado e agradado a igreja hoje.
4) Os Puritanos nos ajudam a ver a suficiência das Escrituras para a vida e a piedade. Isto é o que Pedro disse (2 Pe 1:3-4). As Escrituras nos dão o conhecimento de Deus, o qual nos dá todas as coisas pertinentes à vida e à piedade. O grito de guerra da humanidade hoje é mais ou menos assim: "Estou buscando a auto-estima", ou "Quero apenas estar de bem comigo mesmo".
Os cristãos não carecem de auto-estima; eles carecem de dispensar estima a Cristo! Isaías descobriu quem Deus era e daí ele soube quem de fato Isaías era. Eu me lembro de ter sido convidado para falar numa palestra em outro continente, e pediram-me para falar de mim. Não posso imaginar nada mais constrangedor do que as pessoas ficarem sabendo algo a meu respeito. No livro"Tesouro dos Santos" de Burroughs, seu primeiro sermão é intitulado "A Incomparável Excelência e Santidade de Deus" e é baseado num versículo do Velho Testamento "Quem é como Tu, oh Deu s, entre as nações?". É um sermão de 35 páginas, e Burroughs fala do esplendor de Deus em metade do sermão. Daí ele escreve sobre a segunda metade do versículo "e quem é como Tu, oh Israel?". Qual é o ponto em questão? Sendo que não há ninguém comparável ao Seu Deus, não há ninguém como você! Assim, você não precisa de auto-estima para sentir-se bem consigo mesmo; você precisa ter "Cristo-estima"; você precisa sentir-se bem com Deus.
Se o homem é criado à imagem e semelhança de Deus, como poderia alguém ter falta de auto-estima? Cristo deu Sua vida, pagando um alto preço por Sua Igreja. Isso é verdadeiramente digno, meus amigos!
5) Os Puritanos podem ensinar-nos sobre a extrema maldade da natureza do pecado. Edward Reynolds escreveu um livro intitulado "A Pecaminosidade do Pecado", e Jeremiah Burroughs escreveu "O Mal dos Males". Não há outra doutrina que importe sermos mais ortodoxos do que nesta. Porque se você está fora da doutrina do pecado, você está fora de toda doutrina. Este é o fio da meada que vai abrir todo o invólucro.
Burroughs escreveu 67 capítulos sobre esta premissa: O pecado é pior que o sofrimento; as pessoas farão tudo que puderem para evitar o sofrimento, mas farão quase nada para evitar o pecado. O pecado é pior que o sofrimento, isso, no entanto, é porque o pecado causa o sofrimento. De fato Burroughs vai ao ponto. O pecado é pior que o inferno, porque o pecado causou o inferno. E a causa é pior que a conseqüência da causa.
Obadiah Sedgwick, um presbiteriano Londrino proeminente e que era um membro da Assembléia de Westminster, escreveu um livro perscrutador "A Anatomia dos Pecados Ocultos" — um tratado sobre o clamor de Davi pedindo para ser liberto de pecados ocultos; aqueles pecados escondidos nos recessos mais íntimos de nossos corações. Aqueles pecados que não são conhecidos de mais ninguém, só por nós e Deus, pecados que são tão maus e condenados como quaisquer outros.
Jonathan Edwards disse o seguinte acerca do pecado: "Todo pecado é de proporção infinita, e é mais ou menos mau dependendo da honra da pessoa ofendida. Já que Deus é infinitamente santo, o pecado é infinitamente mau". É por isso que não existe esse negócio de pecado pequeno (pecadinho), porque o mais leve pecado é um ato de traição cósmica cometida contra um Deus infinitamente santo.
Simplesmente por seu enorme valor literário, este material não tem preço. As imagens de Edwards em seu sermão"Pecadores nas Mãos de um Deus Irado" são imbatíveis. Ele compara Deus com um arqueiro e seu arco em mãos; aquele arco está retesado e a flecha está diretamente apontada para o coração do homem; os braços do arqueiro estão trêmulos de tão firme que o arco está ao ser puxado. E Edwards diz que a única coisa que impede Deus de deixar aquela flecha voar e penetrar no sangue do pecador é o beneplácito de um Deus que está infinitamente irado com o pecado a cada dia. Um escritor secular que estava fazendo uma obra sobre Jonathan Edward s foi perguntado por um cristão: "Você sabe, se Edwards tiver razão então aquela flecha está apontada para o seu coração. Como você pode dormir à noite?". A resposta foi a seguinte: "Às vezes eu não durmo! Só espero em Deus que Jonathan esteja errado".
6) Os puritanos nos ajudarão na vida prática. O livro de Richard Baxter, "O Diretório Cristão", tem sido chamado de "o maior manual de aconselhamento cristão jamais produzido". Antes do presente século todo aconselhamento era feito do púlpito ou durante uma visita pastoral à família para catequizá-la. Os pastores eram vistos como os médicos da alma. É interessante notar que a palavra "psicologia" significa o estudo da alma. Suke, de onde temos "psyche" e de onde vem "psicologia" quer dizer "alma". Só que hoje em dia o que costumava ser a cura de almas pecaminosas, passou a ser a cura de mentes doentes (pecado virou doença). Esta tarefa foi tirada do pastor, o qual conhece a alma melhor que qualquer outro, e foi dada a conselheiros (psicólogos) dentre os quais, muitos nem mesmo crêem em Deus. Eles não podem curar males espirituais. O "Diretório" de Baxter mostra o gênio de um homem, que pôde aplicar as Escrituras em todas as áreas da vida. O Dr. James Packer chama este livro de o maior livro cristão já escrito.
O livro "A Prática da Piedade" de Lewis Bayly é um modelo de manual devocional Puritano. A idéia era a de regular o dia inteiro de um indivíduo pelas Escrituras. O Dr. John Gerstner diz que este livro deu início ao movimento Puritano.
Não havia nenhuma área da vida, criam os puritanos, que não devesse ser regulada pelas Escrituras. Mesmo o tempo a sós deveria ser posto à disposição do uso da piedade. Nathanael Ranew escreveu uma refinada obra — intitulada "Solidão Aperfeiçoada pela Meditação Divina". Esta é uma obra puritana clássica sobre meditação espiritual. A premissa de Ranew é que, mesmo quando o cristão está só ele pode "melhorar-se" a si mesmo usando sua mente para o bem, meditando em Deus e em Seus atributos. Se existisse um 11º mandamento, este seria: "Não deveis desperdiçar tempo".
Os Puritanos escreveram vários destes "manuais". John Preston pregou cinco sermões em I Tessalonicenses 5:17 sobre a oração, entitulados "O exercício diário dos Santos", os quais estão incluídos no "Os Puritanos e a Oração".
R.C. Sproul escreveu o prefácio do livro de Jeremiah Burroughs "Tratado sobre Mentalidade Terrena". Eis aí um livro sobre o grande pecado de pensar como o mundo pensa, ao invés de pensar os pensamentos de Deus e segundo Deus.
Os Puritanos tinham característica pastoral forte, além de serem muito teológicos. Christopher Love — sobre quem eu escrevi um livro "Um Espetáculo para Deus" — disse o seguinte, em seu terceiro volume sobre sermões de crescimento na graça:
Não olhe demais para os seus pecados, mas olhe também para a sua graça ainda que fraca. Cristãos fracos olham mais para os seus pecados do que para suas graças recebidas; Deus olha para suas graças e não atenta tanto para seus pecados e fraquezas. O Espírito Santo disse: "Ouvistes da paciência de Jó"; mas Deus leva em conta não o que existe de mau em seu povo, mas o que é bom nele. É mencionado o fato que Raabe escondeu os espias, mas nada é mencionado a respeito da mentira que ela contou. Aquilo que foi bem feito foi mencionado como louvável sobre Raabe. Já o que foi inapropriado está sepultado em silêncio, ou pelo menos não está registrado contra ela e nem como acusação contra ela . Aquele que desenhou o quadro de Alexandre com sua cicatriz na face, desenhou-o com seu dedo sobre a cicatriz. Deus coloca o Seu dedo de misericórdia sobre as cicatrizes de nossos pecados. Oh, como é bom servir um Senhor assim, que é pronto a recompensar o bem que fazemos e ao mesmo tempo está pronto a perdoar e esquecer o que é inapropriado. Por isso, vocês que têm só um pouco de graça, lembrem-se que ainda assim Deus terá os Seus olhos sobre esta pequena graça. Ele não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega. (Is 42:3)
7) Os Puritanos nos ajudarão no evangelismo que é bíblico. Grande parte do evangelismo feito hoje é centrado no homem, mas o evangelismo Puritano era centrado em Deus. Os puritanos tinham outra doutrina, que se tem perdido hoje em dia e tem o nome de "buscar" ou "preparação para a salvação". Era uma doutrina amplamente difundida entre os Puritanos ingleses e os reformadores. Foi ensinada por Jonathan Edwards em seu sermão "Forçando a entrada no Reino", e antes disso foi ensinada por seu avô Solomon Stoddard. Stoddard escreveu "Um Guia para Cristo", q ue John Gerstner chama de o mais refinado manual sobre evangelismo reformado que ele conhece. Além deste, você poderia querer ler "O Céu tomado por violência" de Thomas Watson.
A doutrina da busca nos ensina que Deus trabalha através de meios, e se um homem deseja ser salvo ele deve se apropriar destes meios. Deixe-me dar-lhe um exemplo. A fé vem pelo ouvir, e os homens são salvos pela fé, ou melhor, os homens são salvos pela graça através da fé. Mas se preciso de fé para agradar a Deus e eu percebo que não tenho fé para crer em Deus para a salvação, o que eu deveria fazer?
E é aqui que entra o "buscar". Se a fé vem pelo ouvir, então eu devo ouvir alguém pregar um sermão ortodoxo sobre Cristo. Se Deus vai me salvar, seu meio normal será através da pregação do evangelho. Deus não tem obrigação de me salvar se eu escuto um sermão, mas Ele provavelmente não me salvará sem que eu escute um sermão sobre a graça de Deus.
O pecador, então, deve fazer todo o possível dentro de seu poder natural para amolecer o seu coração. Ele não pode merecer a salvação, mas pelo menos ele pode "cooperar" com Deus em sua salvação ao invés de opor-se a Ele. Eu não me torno agradável a Deus por estar buscando — desde que o esteja fazendo sem interesse próprio — mas eu estou sendo menos ofensivo a Deus ao invés de mais ofensivo; e mesmo se Deus não me salvar, a minha punição no inferno será menor. E os Puritanos diriam: "Se você não pode ir a Deus com um coração reto, então vá a Ele procurando por um coração reto". Busque ao Senhor.
8) Ler os Puritanos nos ajudará a ter prioridades certas. Segundo Coríntios 5:9 diz: "É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para lhe ser agradáveis". Um puritano falou da seguinte maneira: "O sorriso de Deus é minha maior recompensa; Sua expressão de desaprovação é meu maior temor". Se é verdade que nós nos tornamos como as pessoas com as quais gastamos o nosso tempo, então é um investimento para a eternidade gastarmos tempo com os puritanos. Então, gaste o seu tempo com o melh or! O livro "Temor Evangélico" de Jeremiah Burroughs é sobre termos a prioridade correta. Trata-se de sete sermões sobre Isaías 66:2, sobre o que significa tremer da Palavra de Deus. Se Deus fala "É para este que olharei,..., e que treme da minha Palavra", então seria sábio sabermos o que é tremer da Palavra de Deus.
9) Os Puritanos podem nos ajudar a esclarecer a questão de como um homem é justificado diante de Deus. Outro título do Solomon Stoddard é sua obra prima sobre justiça imputada: "A Segurança da Apresentação, no Dia do Juízo, na Justiça de Cristo". Não tenho como não enfatizar extremamente a importância de ser são e sóbrio sobre esta questão de justiça imputada nestes dias onde tantos não estão sendo sóbrios e claros na eterna diferença entre justiça imputada ou atribuída e justiça infundida. A diferença entre estas duas posições não é só a dist ância entre Roma e Genebra; mas é também a distância entre o céu e o inferno. Eu recomendo para as suas leituras sobre este assunto, o livro "Justificação Somente Pela Fé". Se você quer especificamente um livro puritano sobre esta questão, então leia "Os Puritanos e a Conversão", ou leia o livro de Matthew Mead, "O Quase Cristão Descoberto". Mead lista vinte e seis coisas que uma pessoa deve fazer como cristã. Fazendo estas coisas não prova que ela realmente seja cristã, no entanto não fazê-las prova que ela não é cristã. Não é para a fraqueza do coração. Esta era a versão do século 17 de "O Evangelho Segundo Jesus", 300 anos antes de John MacArthur ter escrito aquela obra preciosa.
10) Finalmente, olhemos para os Puritanos e a Autoridade da Palavra. Sabemos que as Escrituras são Deus falando conosco. O versículo clássico de Timóteo nos diz que "Toda Escritura é inspirada por Deus" (literalmente soprada por Deus). E sabemos que seja o que for que Deus diga, nós devemos obedecer. De fato foi isto que o povo de Deus do Velho Testamento percebeu. Em Êxodo 24:7 eles declaram: "Tudo que o Senhor falou nós faremos, e seremos obedientes". Não há nada que o Senhor diga que nós não devamos fazer; e se não o fazemos nós não somos cristãos! A coisa é simples assim!
Um puritano que era membro da Assembléia de Westminster em 1643 escreveu: "A autoridade da Escritura Sagrada, por causa da qual se deve crer e obedecer, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja; mas depende totalmente de Deus (que é a própria Verdade) o autor da mesma. E por isso ela deve ser recebida, porque é a Palavra de Deus".
Sabemos que quando Deus fala nós devemos ouvir. De fato, grande parte da Grande Comissão é ensinar às pessoas a se submeterem à autoridade da Palavra de Deus "ensinando-os a observar tudo que vos tenho ordenado" (Mt 28:20).
Isto é o que surpreendia as pessoas quando Jesus ensinava. Mateus 7:29 diz que quando Jesus ensinava, as pessoas ficavam maravilhadas. Qual era a base para a admiração delas? "Ele estava ensinando-as como quem tem autoridade, e não como os escribas".
É exatamente assim que os pregadores devem pregar: com autoridade. É um mandamento de Deus que eles assim o façam. "Falai estas coisas, exortai e reprovai com toda autoridade. Não deixe que ninguém te despreze" Tito 2:15. Enquanto afirmamos que se Deus dissesse alguma coisa nós o obedeceríamos, nós nos esquecemos que o ministro fiel é Deus falando a nós hoje. É a visão da Reforma do ministério do púlpito: quando um ministro fiel está expondo a Palavra de Deus, é a voz de Deus que você está ouvindo e não a de um homem. E isto quer dizer que deve ser obedecida.
Mas o que você escuta após o sermão? O melhor que você ouvirá é "Isto é interessante, terei que pensar sobre isto". Mas Deus nunca nos deu Sua Palavra para ter nossa opinião ou para pensarmos sobre o assunto. Ele nos deu Sua Palavra para que a obedeçamos. O Puritano Thomas Taylor escreveu:
A Palavra de Deus deve ser pregada de tal maneira, que a majestade e a autoridade dela sejam preservadas. Os embaixadores de Cristo devem falar Sua mensagem como se Ele literalmente o fizesse. Um ministro lisonjeador é um inimigo desta autoridade, pois se um ministro deve contar "placebos" e canções doces é impossível que ele não venha trair a Verdade. Resistir esta autoridade ou enfraquecê-la é um pecado temível, seja em homens de alta ou baixa posição. E o Senhor não permitirá que seus mensageiros sejam interrompidos. Os ouvintes devem: a) orar por seus mestres, para que possam transmitir a Palavra com autoridade, com poder e claramente; b) não confundir esta autoridade nos ministros como rudeza ou antipatia, e muito menos como loucura; c) não recusar a sujeição a esta autoridade, nem ficar ofendidos quando ela sobrepuja uma prática onde eles estão relutantes em largar; pois é justo para com Deus apagar a luz daqueles que recusam a luz oferecida.
Deuteronômio 30:20 equipara um Deus de amor com obediência à Sua voz, e diz que é assim que amamos.
Bem, era assim que os puritanos viam as Escrituras. Sua elevada visão de Deus veio de sua elevada visão das Escrituras. E se nós quisermos conhecer a Deus como eles, nós devemos amar Sua Palavra como eles amaram. E este amor aumentará somente através de estudo intenso e diligente. E ler os puritanos é a próxima boa coisa. É como ir a escola com as mentes mais brilhantes que a igreja já teve.
Onde você deveria começar? Recomendo ao iniciante os seguintes títulos:
O Amor Verdadeiro do Cristão ao Cristo Invisível, de Thomas Vincent.
A Maldade do Pecado ou O Dever da Auto Negação, Thomas Watson.
Amostras de Thomas Watson, um pequeno livro de dizeres coletados.
A Graça da Lei, Ernest Kevan; um bom livro sobre o papel da lei na teologia puritana.
Os Puritanos e a Conversão, Os Puritanos e a Oração. Dois excelentes compêndios que dão ao leitor o melhor do pensamento puritano sobre os respectivos temas.

________________________________________
Traduzido pelo ministério "Os Puritanos" e publicado na revista "Os Puritanos" em 1995.

Como Ensinar e Pregar o Calvinismo

John Piper

1. Seja rigorosamente textual em todas suas exposições e explanações e defesas dos ensinos Calvinistas. Torne-o todas às vezes um assunto textual, não um assunto lógico ou de experiência.

2. Não seja estridente, mas gentil. Assuma que trabalhar estes grandes assuntos até à convicção pode levar anos e que estar no processo é um bom começo.

3. Fale de seu próprio quebrantamento com respeito à estas coisas e como elas são preciosas para você e porque e como elas ministram à sua alma e ajudam você a viver sua vida.

4. Faça de Spurgeon e Whitefield seus modelos antes do que Owen ou Calvino, porque os primeiros foram evangelistas e ganharam muitas pessoas para Cristo de um modo que está mais próximo de nossos dias.

5. Seja um evangelista e um mobilizador de missões de forma que as críticas de que o Calvinismo entorpece uma paixão pelos perdidos sejam postas em silêncio.

6. Trabalhe os cinco pontos a partir do "I" no TULIP e não do "U". Isto é, mostre ao povo que eles não querem realmente tomar o crédito final pela sua vinda a Cristo. Eles não querem estar diante de Deus no dia do julgamento e responder à questão, "Porque você creu e outros com suas oportunidades não?” Com a resposta, "Bem, eu suponho que eu era mais esperto, ou mais espiritual". Eles querem dizer, "Pela graça eu fui trazido à fé". Que é a "graça irresistível". Isto é, graça que triunfa sobre toda resistência até o fim.

7. Regozije-se por causa das críticas. Aquele que conhece e descansa na soberana graça de Deus deve ser o santo mais feliz. Não seja um anunciador amargo, melancólico, hostil ou falso para a glória da graça de Deus. Louve-a. Regozije-se nela. E não deixe que se torne um espetáculo. Faça isto no seu quarto secreto até que isto seja derramado sobre o púlpito e áreas públicas.

8. Não cavalgue sobre o que não está no texto. Pregue exegeticamente, explanando e aplicando o que está no texto. Se isto soar Arminianismo, que soe Arminianismo. Confie no texto e o povo confiará em você por ser fiel ao texto.

9. Evite jargões teológicos que não estejam no texto. A palavra "Calvinismo" provavelmente não é de grande auxílio. "Doutrinas da graça" pode não ser também. Simplesmente se prenda com o que está no texto, ou sugira algumas novas frases impressionantes que farão com que os povos fiquem maravilhados e sejam excitados.

10. Conte histórias e experiências biográficas e das vidas de santos vivos que ilustrem a dependência deles da soberania de Deus. Especialmente histórias relacionadas às missões e evangelismo e santidade de vida.

________________________________________

Traduzido por Felipe Sabino de Araújo Neto

O Renascimento da Fé Reformada no Século XX

Gilson Santos

Dr. Iain Murray, no seu livro "The Puritan Hope" (A Esperança Puritana), relembra que o funeral de C. H. Spurgeon (1834-1892), em fevereiro de 1892, foi concebido por muitos como a conclusão da influência Puritana. Não obstante, no século XX, no período do pós-guerra, a tendência começou a reverter-se. "Desde 1957 tem ocorrido um reavivamento teológico reformado, o qual tem suas raízes nos livros dos puritanos", destaca Erroll Hulse em seu livro "Quem Foram os Puritanos?". E tanto Murray quanto Hulse ressaltam a importância do ministério de D. Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) neste "renascimento da fé reformada".

Em 1950 teve início um pequeno grupo de estudos. Esse ficou conhecido como a Conferência Puritana e reunia-se numa sala nas dependências da Capela de Westminster (Westminster Chapel), em Londres. Em 1959, esse encontro anual havia crescido para uma conferência de dois dias e contava com cerca de 400 participantes. Dr. James I. Packer e Dr. Martyn Lloyd-Jones eram os organizadores. Mais tarde este evento tomou o nome de A Conferência de Westminster. Muitos jovens estudantes e ministros, das mais diferentes denominações evangélicas, tiveram suas vidas profundamente tocadas pela instrumentalidade do ministério de Lloyd-Jones na Capela de Westminster. Entre estes jovens estudantes, se encontravam futuros missionários no Brasil.

Foi muito importante a relação de Dr. Lloyd-Jones com a editora Banner of Truth (Bandeira da Verdade), tendo dado todo o seu apoio desde o princípio, principalmente devido às publicações da obra dos puritanos. A Editora Britânica The Banner of Truth Trust teve início em 1957 em Londres. Os fundadores – destacando-se Dr. Iain Murray, ovelha e também auxiliar de Lloyd-Jones - criam "que muito da melhor literatura do Cristianismo histórico tinha caído em esquecimento", e que sua publicação poderia ser uma força para um verdadeiro reavivamento na Igreja atual. Realmente, tanto pelas publicações (livros e revista), quanto pelas conferências (que logo foram também promovidas nos Estados Unidos) a editora Banner of Truth pode ser identificada como uma das fortes influências neste moderno renascimento da fé reformada. Aliás, é manifesta a influência de Banner of Truth sobre os fundadores da Editora FIEL e da Editora PES, aqui no Brasil.

Samuel Waldron, no livro "Baptist Roots in America" (Raízes Batistas nos Estados Unidos) aponta outra grande influência, especialmente para os norte-americanos: o Seminário Presbiteriano de Westminster. Waldron descreve o Westminster Seminary como o “ressurgimento" do velho Princeton, “tomando a herança bíblica e reformada de seu decaído predecessor”. O Seminário de Princeton foi fundado em 1812, e entre seus renomados professores estiveram Archibald Alexander, Charles Hodge, A. A. Hodge e Benjamin B. Warfield. Nas décadas de 1920 e 1930, a principal denominação presbiteriana da época (PCUSA) foi abalada pela controvérsia modernista-fundamentalista. J. Gresham Machen (1881-1937), o líder dos conservadores, publica o importante livro "Cristianismo e Liberalismo" (1923), um clássico sobre o assunto. Machen e outros importantes professores conservadores deixam o Seminário Presbiteriano de Princeton, que fica nas mãos dos liberais, e fundam o Seminário de Westminster em 1929. Posteriormente, o Seminário de Westminster abre novos campus, inclusive o da Costa Oeste norte-americana. Numa época em que muitos seminários, inclusive importantes escolas teológicas batistas, rumavam em direção à secularização dos seus currículos, e se “encantavam com o canto” de docentes e acadêmicos liberais e neo-ortodoxos, o Seminário de Westminster constituiu-se numa indelével influência saneadora.

Samuel Waldron estabelece, assim, o importante papel do Seminário de Westminster para o atual movimento de reforma entre os batistas, lembrando que "muitos estudantes batistas que freqüentaram o Seminário vieram a ter contato com sua herança Reformada", e muitos jovens ministros, ainda que não tenham estudado ali, foram profundamente marcados por seus padrões teológicos e pelas obras de seus docentes. Entre estes jovens pastores batistas norte-americanos, influenciados pelo Seminário de Westminster, podemos citar, como exemplo, o pastor Walter Chantry, que na década de 1960 assumiu uma igreja batista no estado da Pensilvânia. Esta pequena igreja disseminou a fé reformada entre muitas outras, e experimentou a graça de Deus em seu crescimento e na expansão de sua obra missionária. A organização The Association of Reformed Baptist Churches of America - ARBCA (Associação de Igrejas Batistas Reformadas nos Estados Unidos), que teve inclusive a grande influência de Chantry e sua igreja no processo de organização, mantém desde 1997 um Departamento Batista no Seminário de Westminster da Califórnia. Trata-se do The Institute of Reformed Baptist Studies cujo deão acadêmico é o Dr. James M. Reninhan.

Assim, o ministério de Dr. Lloyd-Jones, no período do pós-guerra; o amplo ministério de The Banner of Truth especialmente nos países de Língua Inglesa (conferências, revista e livros); e o grande impacto da influência teológica reformada, bem como do modelo acadêmico proporcionado pelo Seminário Westminster, são três fatores que contribuíram significativamente para os rumos da Igreja no Século XX, e que também se fazem sentir no Brasil. No que diz respeito a nós, batistas, estas influências são sentidas crescentemente hoje em todo o mundo.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O que é Hiper-calvinismo?

Gilson Santos


Alguns não-calvinistas tendem a chamar de “hiper-calvinista” qualquer calvinista que tome mais seriamente suas convicções acerca da soberana e livre graça de Deus. Muitos arminianos automaticamente chamam um calvinista de “hiper” da mesma maneira que alguns chamam toda pessoa mais conservadora de “bitolada” ou toda pessoa mais liberal de “descrente”. O vocábulo assume, assim, uma conotação generalizada, imprecisa e, sobretudo, desairosa. “Hiper-calvinismo” seria, desta maneira, quase um xingamento.

Alguém certa vez sugeriu que hiper-calvinismo seria como um “calvinismo que ingeriu açúcar demais”. Não estou certo se podemos comparar isto em termos de mais ou menos açúcar na dieta. Muito freqüentemente as pessoas supõem que a diferença entre Calvinismo e Hiper-calvinismo é simplesmente uma questão de grau. Talvez a própria nomenclatura aqui, infelizmente, crie alguns embaraços, pois o prefixo grego “hiper” significa “além”, “excesso”, e, literalmente, “posição superior”. Entretanto, como Dr. Iain Murray muito apropriadamente aponta, a questão não se compara à diferença na “altura dos forros entre duas capelas”. Spurgeon fez questão de deixar isto claro quando insistiu que a real diferença era entre “verdadeiro” e “falso” calvinismo. Ao mesmo tempo ele era cuidadoso em dizer que seu uso da palavra Calvinismo não significava que considerasse o reformador do século dezesseis como um padrão de verdade. Esta descrição simplesmente intencionava designar “o glorioso sistema que ensina a salvação como sendo, do princípio ao fim, mediante a graça”. E ele estava certo que o ensino do reformador não era o que os hiper-calvinistas ensinavam. E em sua leitura dos antigos Puritanos, Spurgeon também estava convencido de que eles não apoiariam as crenças do hiper-calvinismo.

De fato, o hiper-calvinismo emerge apenas onde e quando a verdade da soberania de Deus na salvação é firmemente crida. E nos dias atuais, quando o calvinismo evangélico tem sido novamente recuperado em muitas partes da terra, o perigo do hiper-calvinismo é, mais uma vez, uma real possibilidade.

Alguns, quando pensam em hiper-calvinismo, têm suas mentes voltadas para a questão da predestinação simples versus predestinação dupla, ou, para utilizar os jargões teológicos, a visão infralapsária contra a visão supralapsária. E, assim, para alguns, hiper-calvinismo seria defender que Deus não apenas predestina para a salvação, mas também para a condenação. Ou, colocando a questão de outra maneira: Deus predestina alguns pecadores, caídos, para a salvação, de tal forma que, em termos lógicos, o decreto da predestinação sucede ao decreto da queda? Ou, Deus predestina alguns homens para a salvação e para a condenação, de tal maneira que o decreto da queda sucede logicamente ao decreto da predestinação? Estas questões parecem ter o seu lugar para discussão, e têm sido mesmo objeto de longos e enfadonhos debates escolásticos. Para mais detalhes sobre este debate, acesse online, Notas sobre Supralapsarianismo & Infralapsarianismo, por Phillip R. Johnson. Parece-me, contudo, que a crença na dupla predestinação, em si mesma, não se qualifica como hiper-calvinismo em seu sentido teológico e histórico.

Teologicamente, hiper-calvinismo se dá quando a pessoa perde o ponto do equilíbrio e da relação entre a soberania de Deus e a responsabilidade do homem, de tal forma que a primeira doutrina é forçada e a segunda minimizada. Para o hiper-calvinista, visto que Cristo é o Salvador apenas dos eleitos, portanto, não é dever do não-eleito crer nEle pois a salvação não lhe foi providenciada. Afirmar que a fé é um “dever de todos” é estigmatizado como “o erro da fé como dever”. Assim, o ponto nevrálgico do hiper-calvinismo parece residir na negação de que é dever de todos os homens em geral crerem no Senhor Jesus Cristo para a salvação de suas almas. O hiper-calvinista minimiza a responsabilidade dos pecadores, e particularmente diante da oferta e chamada do evangelho. E, conseqüentemente, o pregador não pode clamar de bona fide a todos os homens para crerem no Senhor Jesus Cristo. O hiper-calvinista se negará a afirmar que a apresentação e os convites do evangelho se aplicam a todos os ouvintes, e há de limitá-los, pelo menos em sua intenção, apenas ao eleito. Esta é a razão porque há a tendência de pouco evangelismo e pouca pregação fervorosa da parte do hiper-calvinismo. Assim sendo, a batalha em torno do hiper-calvinismo torna-se mesmo uma batalha em torno da pregação do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

Para uma boa e apropriada definição de Hiper-calvinismo quero recomendar o artigo de Phillip R. Johnson, A Primer on Hyper-Calvinism, online em: http://www.gty.org/~phil/articles/hypercal.htm. Recomendo também a leitura do livro de Dr. Iain Murray, Spurgeon v. Hyper-calvinism; The Battle for Gospel Preaching (184 páginas - ISBN: 0-85151-692-0, Banner of Truth). O livro encontra-se recomendado na lista de livros do web-site da CRBB.

Outros textos que talvez possamos recomendar são: Calvinism, Hyper-Calvinism and Arminianism, por Kenneth Talbot & Gary Crampton (142 páginas). E, para uma análise mais exaustiva sobre a emergência do Hiper-calvinismo na Inglaterra, acesse online: The Emergence of Hyper-Calvinism in English Nonconformity, 1689-1765, por Peter Toon.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Calvinismo Aniquila o Evangelismo?

Ernest Reisinger


A resposta desta pergunta é “sim” e “não”. Sim, o calvinismo aniquila o evangelismo antibíblico centralizado no homem e alguns dos métodos antibíblicos e carnais empregados nesse tipo de evangelismo.Não, o calvinismo não destrói o evangelismo centralizado em Deus, no qual os métodos bíblicos são utilizados na grande obra de cumprir o mais evidente mandamento de nosso Senhor.
Antes de falar sobre evangelismo e calvinismo, talvez seja prudente fazer alguns comentários gerais a respeito de conceitos errados sobre o calvinismo. Existem fanáticos a favor do calvinismo, assim como existem fanáticos contrários a ele. Este assunto nos apresenta indagações cruciais, importantes e imprescindíveis em nossos dias. Temos ouvido perguntas sinceras, especialmente da parte de seminaristas e pastores recém-ordenados.
Não há dúvida de que os fundadores e o corpo docente do primeiro seminário Batista do Sul, bem como a maioria dos primeiros pastores batistas, eram calvinistas, por comprometimento e experiência.

Os calvinistas não seguem João Calvino

Os princípios elementares dos dois grandes sistemas de teologia se encontram ou no calvinismo ou no arminianismo. Entretanto, estes sistemas teológicos existem desde muitos séculos antes de João Calvino haver nascido. Naquela época, eles eram chamados agostinianismo e pelagianismo, de acordo com os nomes dos homens que os definiam, no século V. Com justiça, o calvinismo poderia ser chamado de agostinianismo, e não significaria que estamos seguindo Agostinho em direção à Igreja Católica Romana; pelo contrário, significa que somos seguidores dos princípios de teologia que Agostinho ensinou. De fato, John A. Broadus, um grande batista do Sul, do século XX, estava certo quando declarou que este sistema de teologia retrocede ao apóstolo Paulo. Por isso, Broadus chamou o calvinismo de “aquele sublime sistema da verdade paulina”.
Calvino pode ter sido o homem que elaborou, pela primeira vez, aqueles princípios doutrinários em um sistema formal. Mas, como já dissemos, os princípios doutrinários não se originaram com João Calvino ou com Agostinho, e sim com o apóstolo Paulo. Por conseguinte, os calvinistas não seguem a João Calvino; pelo contrário, nos apegamos aos princípios doutrinários que ele formulou em um sistema de doutrina cristã. (Isto também é verdade a respeito do Credo dos Apóstolos. Esse credo não foi escrito pelos apóstolos. As verdades bíblicas do credo foram sistematizadas muitos anos depois que os apóstolos haviam partido para receber sua recompensa.) Conseqüentemente, cometemos um grave erro quando afirmamos ou deixamos implícito que somos seguidores de João Calvino. Não batizamos infantes, nem concordamos com a queima de hereges. Podemos dizer, com certeza, que, assim como o pelagianismo é o progenitor do arminianismo, assim também o paulinismo e o augustinianismo são os pais do calvinismo.
O fundamento doutrinário do calvinismo não é a predestinação
Além disso, o princípio doutrinário sobre o qual todo o calvinismo se alicerça não é a predestinação. Não. O ensino primário do calvinismo se fundamenta em um alicerce mais amplo, o ensino que podemos dizer (e não estamos exagerando em dizê-lo) refere-se à própria natureza e caráter de Deus. O único fundamento sobre o qual o calvinismo está edificado é a absoluta e ilimitada soberania de Deus. Na realidade, o calvinismo afirma e enfatiza a doutrina da soberania de Deus, sendo esta doutrina a fonte de onde fluem todos os outros princípios do ensino calvinista.
É importante entendermos que o calvinismo não está centralizado, primariamente, em sua doutrina de predestinação, considerada de maneira isolada. A predestinação é simplesmente o resultado ou a aplicação da soberania de Deus em referência à salvação. O calvinismo afirma que a soberania de Deus é suprema na salvação, assim como em todas as outras coisas.
Nossa herança calvinista
Ao considerarmos o nosso passado, em busca de nossa origem, não podemos esquecer alguns dos pais e líderes de nossa grande Convenção Batista do Sul que eram calvinistas firmes e comprometidos.
Por exemplo, considerem Basil Manly. Um historiador disse que Manly desempenhou a função de regente ao orquestrar os acontecimentos que resultaram na fundação de uma convenção batista conservadora. Manly elaborou uma resolução de seis pontos que levou à separação entre os batistas do Norte e os do Sul. Esta resolução foi “aprovada de pé e com unanimidade”. Basil Manly era um calvinista de primeira ordem.
Em um sermão intitulado “Eficácia Divina em Coerência com a Atividade Humana”, Manly disse a um grupo de pastores:
Não abandonemos a doutrina da atividade e da responsabilidade do homem ou a doutrina da soberania e da eficácia de Deus. Por que elas deveriam ser consideradas incoerentes? Ou por que deveriam aqueles que se apegam a uma se mostrar dispostos a duvidar, desacreditar ou rejeitar a outra? Manly continuou:
A grande razão.... por que a família cristã está dividida em dois lados, cada qual rejeitando uma ou outra destas grandes doutrinas, é que a doutrina da de- pendência do Ser Divino nos lança constantemente nas mãos e na misericórdia de Deus. O homem orgulhoso não gosta disso; ele prefere olhar para o outro lado do assunto; torna-se cego, em parte, por contemplar apenas um lado da verdade, e se esquece do Criador, em Quem ele vive, se move e tem sua existência.
Considere James P. Boyce, o principal fundador do primeiro seminário — (Seminário Teológico Batista do Sul — EUA). Muito depois da morte de Boyce, um de seus ex-alunos, Dr. David Ramsey, apresentou uma mensagem, no Dia dos Fundadores, em 11 de janeiro de 1924, intitulada “James Petigru Boyce, o Excelente Homem de Deus”. Poucas linhas desta mensagem do Dr. Ramsey nos mostrarão que Boyce era um calvinista comprometido e que, ao mesmo tempo, amava a alma dos homens.
Meu argumento é que nenhuma outra teologia, além da teologia caracterizada por um amor avassalador e consumidor para com os homens, explica James P. Boyce e seu ministério. Este amor apaixonado foi o elemento que direcionou seu modo de pensar naquelas primeiras conferências e na elaboração dos documentos que levaram ao estabelecimento do seminário. O propósito de ajudar seus colegas permeava todos os seus planos, sua conversa, seus escritos, sua pregação, seu ensino, assim como o filete escarlate permeia todas as cordas dos navios da marinha inglesa. Este zelo pelas almas exigiu o melhor do ser de Boyce, assim como o sol da manhã leva as flores e plantas carregadas de orvalho a se curvarem ao deus do dia.
O amor de Boyce por seus colegas era tal que, depois de sua morte, o rabino Moses, de Louisville, disse a respeito dele:Antes de vir para Louisville, eu conhecia o cristianismo somente em livros. Foi por meio de homens como Boyce que aprendi a conhecer o cristianismo como uma força viva. Nesse homem, aprendi não somente a compreender, mas também a respeitar e a reverenciar o poder chamado cristianismo. Boyce não somente amava os homens, ele amava a Deus. Ramsey disse sobre este assunto:
Nosso pensamento deve envolver tanto o amor subjetivo como o objetivo: o amor do homem para com Deus e o amor de Deus para com o homem. O amigo íntimo de Boyce e co-fundador do seminário, John A. Broadus, expressou seus próprios sentimentos a respeito da teologia de Boyce, a qual chamamos calvinismo: ‘Foi um grande privilégio ser dirigido e instruído por um professor como Boyce, em estudar aquele sistema de verdade paulina que é tecnicamente chamada de calvinismo, que impulsiona um estudante sincero a pensar de maneira profunda; e, quando persuadido por meio de uma combinação de pensamento sistemático e experiência fervorosa, tal estudante é levado a sentir-se em casa entre os mais inspiradores e enobrecedores pontos de vistas sobre Deus e o universo que Ele criou.
O legado que Boyce nos outorgou é a teologia bíblica expressa na obra Abstract of Systematic Theology (Sumário de Teologia Sistemática), que não é nada mais do que o assunto de suas aulas — o puro calvinismo. Em defesa do calvinismo de Boyce, William A. Mueller, autor de A History of Southern Baptist Theological Seminary (Uma História do Seminário Batista do Sul), disse:
Como teólogo, o Dr. Boyce não tem medo de andar nos antigos caminhos. Ele é conservador e eminentemente bíblico. Dr. Boyce trata com grande imparcialidade aqueles cujos pontos de vista ele se recusa a aceitar, após discussão; mas, em seu ensino ele é resolutamente calvinista, seguindo o modelo dos antigos teólogos. Dr. Boyce procura esclarecer as dificuldades relacionadas a doutrinas tais como: Adão — o cabeça da raça humana, a eleição e a expiação; ele faz isso não para silenciar aqueles que apreciam a controvérsia, e sim para ajudar o investigador sincero.
O Rev. E. E. Folk, no jornal Baptist Reflector (Refletor Batista) comentou sobre as habilidades de Boyce e seus frutos como professor de teologia:
Você tinha de conhecer bem a sua própria teologia, pois, do contrário, não poderia descrevê-la perante o Dr. Boyce. E, embora os jovens alunos fossem, em sua maioria, arminianos, quando chegavam no seminário, poucos continuavam seguindo esta teologia, pois, estando sob o ministério do Dr. Boyce, muitos dos jovens alunos se convertiam às vigorosas opiniões calvinistas dele.
Boyce e Manly eram calvinistas convictos. E não eram os únicos. A teologia deles não era algo incomum nos primeiros dias do Southern Baptist Theological Seminary (Seminário Batista do Sul). W. B. Johnson, o primeiro presidente da Convenção Batista do Sul (EUA), era calvinista, assim como o eram R. B. C. Howell e Richard Fuller, segundo e terceiro presidentes da Convenção. B. H. Carroll, fundador do Seminário Batista do Sudoeste, em Fort Worth, Texas, também era calvinista. Patrick Hues Mell, presidente da Convenção Batista do Sul por 17 anos, foi um polêmico defensor do calvinismo, mais do que qualquer outra pessoa. A Sra. D. B. Fitzgerald, hóspede por vários anos na casa de Patrick H. Mell e membro da Igreja Anthioc (em Oglethorpe, Geórgia), da qual ele era o pastor, recorda os esforços iniciais de Mell na igreja:
Quando o Dr. Mell foi chamado para assumir o pastorado da igreja, esta se encontrava em triste estado de confusão. Ele disse que certos membros estavam se encaminhando ao arminianismo. O Dr. Mell amava demais a verdade, para respirar duas teologias distintas ao mesmo tempo. A igreja era batista e tinha de confessar doutrinas peculiares àquelas que a denominação lhe ensinava. Por isso, com aquela ousadia, clareza e vigor de linguagem que lhe eram característicos, o Dr. Mell pregava aos membros da igreja as doutrinas da predestinação, eleição, graça soberana, etc. Ele disse que seu dever era pregar a verdade sempre, conforme a encontrava na Palavra de Deus, e parar nesse ponto, sentindo que Deus cuidaria dos resultados (The Life of Patrick Hues Mell, p. 59).
Eu poderia continuar citando nomes e trechos de biografias de fundadores de nossa denominação que eram calvinistas comprometidos, bem como firmes na evangelização. Citarei apenas mais um nome: o Dr. J.A.Broadus, um grande pregador e um dos fundadores de nosso seminário. Ele disse:
Aqueles que escarnecem do que chamamos calvinismo poderiam também escarnecer do Mont Blanc. Não estamos obrigados a defender todas as opiniões e atitudes de Calvino; todavia, não posso entender como alguém que compreende o grego do apóstolo Paulo ou o latim de Calvino ou de Turretin pode deixar de ver que estes apenas interpretaram e formularam, de modo concreto, aquilo que os apóstolos ensinaram.
Desejo resumir mencionando cinco coisas que não identificam o calvinismo:
1. O calvinismo não é antimis-sionário; pelo contrário, fornece o alicerce bíblico para missões (Jo 6.37; 17.20-21; 2 Tm 2.10; Is 55.10; 2 Pe 3.9,15).2. O calvinismo não elimina a responsabilidade do homem. Os homens são responsáveis pela luz que têm, quer seja a consciência (Rm 2.15), quer seja a natureza (Rm 1.19-20), quer seja a Lei escrita (Rm 2.17-27), quer seja o evangelho (Mc 16.15-16). A incapacidade do homem para fazer o que é reto não o isenta de responsabilidade, assim como a incapacidade de Satanás para fazer o que é reto também não o deixa livre de responsabilidade. 3. O calvinismo não torna Deus injusto. Conceder a bênção da salvação para inúmeros pecadores indignos não é uma injustiça da parte dEle para com o demais pecadores indignos. Se um governador perdoa um criminoso culpado, está cometendo injustiça para com os demais? (1 Ts 5.9.)4. O calvinismo não desanima os pecadores convictos; em vez disso, lhes dá bons motivos para virem a Cristo. “Aquele que tem sede venha” (Ap 22.17). O Deus que convence é o Deus que salva. O Deus que salva é o mesmo que escolheu homens para a salvação e que os convida a desfrutar da salvação.5. O calvinismo não desencoraja a prática da oração. Pelo contrário, o calvinismo nos motiva a buscar a Deus, visto que Ele é o único que nos pode salvar. A verdadeira oração é um impulso do Espírito Santo e, por esta razão, estará em harmonia com a vontade de Deus (Rm 8.16).
O calvinismo tem caracterizado os batistas autênticos, em sua história. De modo contrário ao movimento liberal, ao movimento carismático, bem como ao dispen-sacionalismo e ao movimento de Keswick, o calvinismo é o único sobre o qual podemos afirmar que é endêmico à história, ao ensino e à herança dos batistas. Até ao presente século, com seu pragmatismo, os batistas do Sul e seus antecessores sempre foram calvinistas. O ressurgimento do calvinismo em nossos dias é apenas um esforço para restaurar nossa antiga teologia, que produzirá um resultado profundo em nosso evangelismo.
Que relação existe entre o calvinismo e o evangelismo?
Primeiramente, devemos saber o que é o evangelismo. O evangelismo é a comunicação da mensagem divina e inspirada que chamamos evangelho. É uma mensagem que pode ser definida em palavras, mas tem de ser comunicada com autoridade e poder. “Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção” (1 Ts 1.5).
O evangelho informa como Deus, nosso Criador e Juiz, tornou seu Filho um Salvador de pecadores, perfeito e disposto. O convite do evangelho declara que Deus convida os homens a virem ao Salvador, com fé e arrependimento, e encontrarem perdão, vida e paz. E este é mandamento de Deus: que creiamos em o nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amemos uns aos outros, conforme Ele nos ordenou (1 Jo 3.23). Jesus disse: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado” (Jo 6.29).
Eis uma definição de evangelizar:“Apresentar o Filho de Deus aos homens pecadores, a fim de que ponham sua confiança em Deus, por intermédio de Cristo, e O recebam como seu Senhor e Salvador, para servi-Lo como seu Rei, na comunhão de sua igreja”. Você deve observar que esta definição inclui a Igreja.

O evangelismo precisa ter um alicerce doutrinário

O alicerce doutrinário do evangelismo bíblico é tão importante à evangelização como o esqueleto o é para o corpo humano. A doutrina proporciona unidade e firmeza. O alicerce doutrinário produz o vigor espiritual que torna o evangelismo capaz de suportar as tempestades de oposição, sofrimento e perseguição que, com freqüência, acompanham o verdadeiro evangelismo e missões. Por conseguinte, a igreja que negligencia o verdadeiro alicerce do evangelismo bíblico logo descobrirá que seus esforços perderam o vigor e surgirão conversões falsas. A falta de um alicerce doutrinário prejudicará a unidade da igreja e abrirá as portas ao erro e à instabilidade em todos os esforços evangelísticos. Faltam-nos palavras para exaltarmos a importância de um alicerce bíblico e ortodoxo no evangelismo autêntico, centralizado em Deus.
A doutrina molda o nosso destino. No presente, estamos colhendo os frutos de um evangelismo que não se fundamenta nas Escrituras. O grande apóstolo Paulo, instruindo um jovem pastor a realizar a obra de um evangelista, disse-lhe que a doutrina (o ensino) é o propósito primordial das Escrituras — “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino” (2 Tm 3.16). O evangelismo sem um alicerce doutrinário é uma casa edificada sobre a areia (Mt 7.24-26). É semelhante a galhos sem raízes, cortados e lançados no chão; eles murcharão e morrerão. O calvinismo possui alicerces doutrinários para o evangelismo.
O alicerce doutrinário do evangelismo centralizado em Deus assegura o seu sucesso. Primeiramente, porque Deus, o Pai, tem algumas pessoas que são eleitas:a. João 13.18 — “Eu conheço aqueles que escolhi”;b. João 15.16 — “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros”;c. Efésios 1.4 — “Assim como nos escolheu, nele”;d. 2 Tessalonicenses 2.13 — “Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação”.e. João 6.37,39,44,64,65 — “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim.... E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu.... Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer”.Isto me parece uma garantia de sucesso!A segunda garantia de sucesso encontra-se no fato de que Deus, o Pai, deu ao seu Filho, o grande Pastor, algumas ovelhas; e o grande Pastor fez expiação em favor das ovelhas que o Pai Lhe deu.
A expiação sobre a qual falamos foi planejada — a cruz não foi um acidente. Deus a planejou. Ele não estava dormindo, nem foi apanhado de surpresa pelos eventos que culminaram na cruz. Deus tinha um plano imutável, inalterável, que estava sendo realizado. O apóstolo Pedro declarou em sua primeira mensagem: “Sendo este [Jesus] entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos” (At 2.23).
Os apóstolos não somente proclamaram esta verdade, mas também oraram a respeito dela. Escute a oração deles: “Porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram; agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra” (At 4.27-29). Na cruz, Deus estava sendo o mestre de cerimônias.
Jesus também ensinou que Deus, o Pai, tinha um plano imutável, inalterável, e poder para executá-lo.“Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou. E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.38-39). “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10.11). “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas” (Jo 10.14).
Jesus deixou claro o motivo por que alguns não crêem nEle. Você já se perguntou por que algumas pessoas não crêem? Jesus responde esta pergunta: “Vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas” (Jo 10.26).Ele descreveu duas características de suas ovelhas: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz [disposição de conhecer a vontade dEle]; eu as conheço, e elas me seguem [disposição de fazer a vontade dEle]” (Jo 10.27).
A verdade de que a expiação se realizou especificamente em favor das ovelhas está em João 17. Veja estas palavras da oração de Jesus:“Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste”; “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus”; “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo” (Jo 17.2, 9,24).
Este ponto de vista sobre o alcance da expiação torna a cruz um lugar de vitória, pois aquilo que o Pai planejou, o Filho adquiriu e orou em seu favor. Isso está em harmonia com a grande declaração contida na profecia messiânica referente a vinda de Jesus: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si” (Is 53.11).
Jesus ensinou esta mesma verdade em João 6.37: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”. Jesus não disse que eles talvez virão; que seria ótimo se viessem; que, se decidirem, eles virão; pelo contrário, Jesus declarou: Eles virão. Este é um elemento importante na mensagem da cruz, a mensagem de nosso evangelismo. Significa que a morte de Cristo não foi em vão. Pelo contrário, esta verdade nos diz que todos aqueles em favor dos quais Cristo morreu, para salvá-los, esses virão a Ele. É interessante observar que, ao anunciar a José o nascimento de Jesus, o anjo foi diretamente neste ponto: “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21).
Observe que o anjo afirmou: “Salvará o seu povo”. Ele não disse: “Cada pessoa”, e sim: “O seu povo” — as ovelhas.Deus usou o fato de que tinha algumas pessoas, algumas ovelhas, para estimular a evangelização da ímpia cidade de Corinto. O grande apóstolo estava com receio de ir a Corinto, e Deus o encorajou, dizendo: “Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta cidade” (At 18.9,10).1. A vinda de Cristo ocorreu em favor de seu povo — “Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21).2. Seu pagamento na cruz se deu em favor das ovelhas — seu povo: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas.... Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim, assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas” (Jo 10.11,14,15).3. Jesus orou em favor de todos aqueles que o Pai Lhe deu: “Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste”; “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus” (Jo 17.2,9).
Esta é a mensagem da cruz que você tem ouvido? É a mensagem de um Cristo cuja morte não foi em vão e que cumprirá tudo que foi planejado? Ou você ouviu uma mensagem de um Jesus insignificante, impotente, patético e, às vezes, efeminado, que tornou a salvação possível e está assentado, passivamente, esperando, para ver o que os pecadores farão com Ele?
Isto não é apenas uma ênfase diferente. É uma mensagem evangelística de conteúdo diferente. O evangelho bíblico está centralizado em Deus, honra a Deus e abençoa os pecadores. O evangelismo centralizado em Deus possui um alicerce doutrinário que lhe garante eficácia. Se o seu conceito a respeito do calvinismo destrói o evangelismo, ofereço-lhe a sugestão de que examine seu entendimento e estude os seguintes livros: Evangelismo e Soberania de Deus, escrito por J. I. Packer (Editora PES, São Paulo - SP); O Evangelho de Hoje — Autêntico ou Sintético (Editora Fiel, São José dos Campos - SP), escrito por Walter Chantry.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Os Cinco Pontos das Igrejas Batistas Reformadas

Gilson Santos

Publico, abaixo, um breve artigo de autoria de David Charles, originalmente publicado em inglês no blog da Reformed Baptist Fellowship. O texto foi traduzido para o português por Juliano Heyse, editor do site Bom Caminho, onde foi primeiramente publicado. Este artigo consiste de uma apresentação sucinta do artigo Distintivos Doutrinais da Confissão de Fé Batista de 1689.
Atente o leitor para o seguinte: embora o texto reflita a posição predominante entre as chamadas "Igrejas Batistas Reformadas", os pontos III (Puritana) e IV (Pactual) não têm recebido, em sua inteireza, unânime aceitação entre as igrejas assim denominadas. Os pontos que têm suscitado algumas tensões são, principalmente, aqueles que dizem respeito à aplicação do Princípio Regulador do Culto, ao Dia do Senhor como um Sabbath Cristão, e à unidade pactual das Escrituras como exposta na Confissão de Fé de 1689, com algum destaque para o papel da Lei e sua relação com o Evangelho. Deve ser dito, a bem da honestidade, que nestes pontos alguma divergência tem surgido, e o acordo não tem sido unânime. A posição de Charles, assim como de alguns outros líderes norte-americanos, é a de que apenas aqueles que sustentam todos estes pontos deveriam chamar-se "batistas reformados". Há, porém, quem divirja de tal opinião. Nos demais pontos, em geral, tem havido razoável concordância no meio reformado batista. E devemos reconhecer, com grata satisfação, que tal já representa uma grande e ampla convergência. Não há dúvida, entretanto, de que os "Cinco Pontos das Igrejas Batistas Reformadas" refletem, em sua inteireza, os padrões da Confissão de Fé Batista de 1689, e são de grande utilidade ao sumarizarem os distintivos confessionais.


Cinco Pontos das Igrejas Batistas Reformadas - David Charles

Batista Reformado? O que é isso? Um batista que está se recuperando de alguma coisa? Batistas não podem ser reformados! Igrejas Batistas Reformadas são uma novidade e, portanto, não são confiáveis. No que exatamente os batistas reformados acreditam? O que exatamente é uma Igreja Batista Reformada?


Esses tipos de perguntas e declarações são comuns nestes dias. A maioria dos pastores batistas reformados têm que lidar regularmente com tais sentimentos. O Cabeça da Igreja tem sido generoso com o evangelicalismo norte-americano nos últimos anos. O Calvinismo parece estar desfrutando de um pequeno reavivamento. Conferências, livros e pregadores de destaque abundam. Alegre-se Sião! Entretanto, isso não veio sem causar um pouco de consternação ao nosso pequeno grupo de igrejas; nós somos freqüentemente deturpados por aqueles que sabem o que foi a Reforma, e mal compreendidos por aqueles que não sabem. Na maior parte do tempo, isso não é difícil de suportar. É nosso privilégio poder explicar o que acreditamos e porque isto é tão importante para nós. O real desafio para nós é quando uma igreja que tem pouco em comum conosco além dos chamados "Cinco Pontos do Calvinismo" ainda assim reivindica ser uma Igreja Batista Reformada. Observe que estes irmãos podem rejeitar o Princípio Regulador do Culto como antiquado, a Lei é menosprezada como sendo penosa, a observância do Sabbath é considerada legalista ou a teologia do pacto é comprometida com uma adesão ao dispensacionalismo. Eu gostaria de ver um pouco de honestidade nos anúncios.


Em uma tentativa de ajudar a explicar no que nós acreditamos, ofereço os CINCO PONTOS DAS IGREJAS BATISTAS REFORMADAS. Estes não são completamente originais. Eu os ouvi pela primeira vez de Richard Barcellos que por sua vez os ouviu do Pastor Greg Nichols. Adicionei os sub-pontos e modifiquei alguns dos termos dos pontos principais. Eu arriscaria dizer que uma Igreja Batista Reformada pode ser mais do que está aqui, mas não menos. Algumas de nossas igrejas podem cantar exclusivamente Salmos enquanto outras são completamente comprometidas com os hinos. Home-schooling ou escola pública e muitas outras preocupações são problemas a serem solucionados com prudência Cristã e caridade (sim, as igrejas batistas reformadas reconhecem os assuntos adiáforos). Mas para o nosso pequeno grupo de igrejas, estes "Cinco Pontos" estão fora de discussão.

Um breve esboço de nossas convicções distintivas


I. REFORMADA. Sola Scriptura - A Bíblia é a autoridade completa, fechada e clara em todas as matérias de fé.B. Solus Christus - Nossa confiança para a salvação está somente em Jesus Cristo.C. Sola Gratia – a Graça assegurou a redenção sem referência a obras.D. Sola Fide - Somos declarados justos por Deus somente pela fé [1].E. Soli Deo Gloria – A finalidade da criação e redenção é a glória de Deus.


II. CALVINISTA. Depravação total - A queda de Adão afetou a totalidade da pessoa do homem [2].B. Eleição incondicional – A Eleição não é baseada na presciência da fé ou em obras [3].C. Expiação limitada – A redenção foi obtida por Cristo para os eleitos [4].D. Graça irresistível – A regeneração pelo Espírito santo é eficaz para os eleitos.E. Perseverança dos Santos - Deus vai, pela graça, completar o que Ele começou na regeneração.


III. PURITANA. Piedade na Adoração - Princípio Regulador do Culto [5], o Dia do Senhor como um Sabbath Cristão.B. Piedade na Pregação - Primazia da pregação. Ênfase na exposição e na aplicação.C. Piedade na Instrução - Confessional e católica. Propagar aquilo que nós cremos que a Bíblia ensina [6].D. Piedade na Família - Pais devem instruir (catequizar) e disciplinar os seus filhos no Senhor.E. Piedade no Comportamento - Manter uma boa consciência diante de Deus e dos homens.


IV. PACTUAL. Unidade da Bíblia - Muitas partes, mas uma só mensagem.B. Interpretação Cristocêntrica - a pessoa de Jesus, Sua obra e Seu reino, é o tema da Bíblia.C. Distinção entre Lei / Evangelho – A Lei [7] ordena e condena. O Evangelho salva [8].D. Um meio de salvação - Cristo salvou todos os eleitos ao longo de todas as eras.E. Visão otimista da história - Jesus Cristo é agora Rei, reinando sobre todos. Ele virá em breve.


V. BATISTA. Prática Eclesiástica Bíblica – Ordenanças só para crentes [9]. Disciplina da igreja exercida com amor.B. Liberdade Eclesiástica Bíblica - O estado não deve intrometer-se em assuntos da consciência.C. Governo de Igreja Bíblico - Presbíteros e diáconos. A congregação local escolhe seus líderes [10].D. Crescimento de Igreja Bíblico - Proclamação do Evangelho para o mundo. Arrependimento e Fé exigidos de todos.E. Ministério Eclesiástico Bíblico - Sacerdócio de todos os crentes [11].


--------------------------------------------------------------------------------


[1] Esta é uma justiça imputada externa. A justificação é perfeita, nem crescente, nem minguante.

[2] Nós concordamos com Martinho Lutero que a vontade do homem "vem do diabo e de Adão."

[3] Uma compreensão calvinista da salvação: Nós rejeitamos todo o entendimento antropocêntrico da salvação.

[4] "Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles." Mt 1.21 cf. Jo 10.11,14-18,24-29; At 20.28; Is 53.[5] Em vez do "Princípio Normativo" que estabelece que o que não é proibido, é permitido. Nosso culto de adoração é constituído ao redor das Escrituras lidas, pregadas e cantadas.

[6] Nós aderimos à Segunda Confissão de Fé Batista de Londres de 1689. Adicionalmente, os credos apostólico, niceno, atanasiano e calcedoniano expressam nossa compreensão de ortodoxia.

[7] Nós reconhecemos os "três usos da lei". Primeiro, a lei serve como um guia para a sociedade promovendo a retidão cívica. Secundariamente, a lei condena os pecadores e os dirige a Cristo. E em terceiro lugar, a lei dirige os cristãos para um viver santo.

[8] A Lei e o Evangelho encontram-se tanto no Antigo como no Novo Testamento. O Evangelho são as promessas de Deus aos Seus eleitos.

[9] O batismo infantil é estranho à prática do Novo Testamento. Da mesma forma, a imersão é o modo apropriado de batismo.

[10] "Uma igreja local, reunida e completamente organizada de acordo com a mente de Cristo, consiste de oficiais e membros. Os oficiais designados por Cristo serão escolhidos e consagrados pela igreja congregada". Nós não reconhecemos nenhuma autoridade maior que a igreja local.

[11] A igreja local é uma família espiritual em que as relações devem ser abertas e honestas. Todos os assuntos são tratados com caridade e paciência. Somente com a participação de todos os membros os indivíduos podem crescer em graça e amor.
________________

As Confissões de Fé Batistas de 1644 e 1689

A CONFISSÃO DE 1644


As primeiras igrejas batistas calvinistas ou "particulares" tiveram início em Londres, na década de 1630. Elas sustentavam o batismo dos crentes por imersão e uma teologia calvinista. O rápido crescimento do sentimento batista na área de Londres já pelo ano de 1640, resultou em sérias oposições a este grupo. Vários escritos de linguagem ofensiva apareceram no período de 1642-44, cada qual procurando instigar suspeitas populares contra os batistas e confundir as pessoas a respeito de sua identidade. Buscando reagir contra esta situação e distinguir a si mesmos dos Anabatistas e dos Batistas Gerais, em 1644, quinze pastores das igrejas particulares, incluindo John Spilsbury, William Kiffin e Hanserd Knollys, redigiram uma Confissão de Fé. Esta, com 50 artigos, é considerada uma das mais notáveis confissões batistas de todos os tempos. Sete igrejas particulares adotaram esta Primeira Confissão Londrina, que foi a primeira Confissão moderna do Oeste Europeu a requerer a imersão como o único modo de batismo, e que caracterizava-se, ainda, por forte teologia calvinista e pela defesa de Liberdade Religiosa. Embora recebida com ceticismo em círculos não-batistas, a Confissão ajudou a doutrinar o inglês com visão batista, e a disseminar a fé. Uma segunda edição em 1646 foi instrumento para assegurar tolerância legal para o movimento. Outras edições apareceram no século XVII.

A CONFISSÃO DE 1677


Após a morte de Oliver Cromwell, houve toda uma série de eventos que culminou no retorno da monarquia Stuart em 1660, que tem sido denominada de "Restauração". Com o Rei Carlos II é adotado novamente o sistema episcopal. Um código de leis rígido, conhecido como Código de Clarendon, colocou os cargos da Igreja Oficial e do Estado nas mãos dos anglicanos e proibiu as reuniões dos puritanos. Por causa do Ato de Uniformidade, em 1662, que exigia total aceitação do Livro de Orações anglicano, nada menos que dois mil ministros presbiterianos, independentes e batistas foram obrigados a deixar suas igrejas e os puritanos se tornaram uma parte da tradição não-conformista da Inglaterra.
Após um pequeno recesso na perseguição, em 1673 o Parlamento promulgou o Ato do Teste, banindo não-conformistas de todas as repartições militares e civis. A perseguição recomeçou. Houve muito sofrimento por razões de consciência. Por exemplo, John Bunyan, batista, foi preso durante doze anos na Cadeia de Bedford e aí escreveu a alegoria intitulada O Peregrino (Pilgrim's Progress) que serviu de auxílio a muitas pessoas desde então.
A renovação da perseguição aproximou grupos em dissensão, em especial aproximou os Batistas e Congregacionais dos Presbiterianos. Os Presbiterianos, então muito numerosos na Inglaterra, e o grupo dominante na Commonwealth, desafiaram um Ato da monarquia, e fizeram com que a execução da lei fosse impossível. Observando o sucesso dos presbiterianos, outros dissidentes foram encorajados. Além disso, era importante que os não-conformistas formassem uma frente unida, que poderia ser demonstrada por uma mostra de acordos doutrinais entre eles. O documento que seria a melhor prova deste acordo estava em mãos. Era a Confissão de Westminster. Esta era a Confissão oficial da Igreja da Escócia, foi adotada pelo Parlamento inglês em 1646, e era a doutrina crida e defendida pelos presbiterianos ingleses. Também os Congregacionais a adotaram, depois de fazer algumas alterações em conformidade com os pontos de vista de suas igrejas, na Conferência de Savoy em 1658.
Os Batistas Particulares de Londres e arredores determinaram, então, mostrar seus acordos com Presbiterianos e Congregacionais fazendo da Confissão de Westminster a base de uma nova confissão batista. Uma carta circular foi enviada às Igrejas Batistas Particulares na Inglaterra e País de Gales, solicitando-as a enviarem mensageiros para uma Reunião Geral em 1677. Ao realizar-se o encontro, tomou-se conhecimento que William Collins (talvez juntamente com outros), ministro de uma igreja de Londres, havia trabalhado sobre os documentos de Westminster e Savoy, alterando onde achou necessário. Neste mesmo encontro o produto do trabalho de Collins foi aprovado e a Confissão foi editada em nome dos representantes reunidos. Também o acordo com a Confissão Londrina de 1644 foi reivindicado em nota introdutória. Mas, a escassez de cópias, a ignorância geral acerca da Confissão, e a necessidade de uma mais completa e de maiores distinções e alento nas visões expostas por aquela Confissão, foram também razões apresentadas para o preparo da nova Confissão.
Sendo baseada na Confissão de Westminster, uma das mais nobres declaração de crenças evangélicas, a Confissão de 1677 é muito mais completa e melhor ordenada que a de 1644. Ela também copia materiais da Confissão de Savoy, documento congregacional. Os ajustes e correções que foram feitos em cima das Confissões Presbiteriana e Congregacional dão ao novo documento seus traços distintivos batistas. E as três confissões comparadas mostram os pontos em que convergiam os reformados na Inglaterra do século XVII. Quando aceitaram a Confissão de Westminster, baseando solidamente nesta a sua Confissão de Fé, os batistas proclamaram abertamente os seus íntimos laços com as outras denominações saídas da Reforma e sua tradição mútua. Ao mesmo tempo, porém, rejeitavam o batismo infantil e proclamavam a sua distinta posição eclesiológica.

DA ASSEMBLÉIA DE 1689 ATÉ KEACH


Logo após a ascensão de William e Mary de Orange ao trono inglês em 1689, e ao Ato de Tolerância que foi publicado em 24 de maio, sete pastores Batistas Particulares londrinos, William Kiffin, Hanserd Knollys, John Harris, George Barrett, Benjamin Keach, Edward Man, e Richard Adams enviaram, juntos, uma carta circular às Igrejas Batistas Particulares da Inglaterra e Gales, convocando-as para uma Assembléia Geral. Em resposta à convocação, 107 igrejas enviaram mensageiros ao encontro em Londres, que foi realizado entre 3 e 12 de setembro. Esta primeira Assembléia Geral dos Batistas Particulares Ingleses, no curso de suas deliberações, aprovou a Confissão de 1677, conforme uma segunda edição que foi publicada em 1688, e recomendou-a para subscrição pelas igrejas e para o estudo dos membros. Começando com as Escrituras Sagradas e terminando com o julgamento final, num total de trinta e dois artigos, entre todas as Confissões de Fé batistas, foi esta, de longe, a de maior destaque e a que de maior autoridade se revestiu. Pretendida como um instrumento apologético e educativo, a Confissão se tornou uma das mais importantes de todas as confissões batistas.
Benjamin Keach, que se associou a Collins na reedição da Confissão em 1688, trabalhou nela fazendo pequenas alterações, em 1697. Com a cooperação do seu filho Elias, o documento foi publicado como Confissão de Fé das duas igrejas pastoreadas por eles. A Keach's Confession (Confissão de Keach) recebeu mais duas ênfases, resultado das preocupações do seu autor, e que não constavam da Confissão em 1689: "Imposição de Mãos" e "Salmos e Hinos em Cultos". A Confissão de Keach continha, então, 34 capítulos, e algumas mudanças doutrinais mínimas foram feitas em relação ao texto básico. A Confissão de Keach, que teve apenas uma edição na Inglaterra, achou seu caminho para os Estados Unidos da América possivelmente através da influência de Elias Keach, e tornou-se o corpo da Confissão de Filadélfia, a Confissão Batista Calvinista dominante no Novo Mundo